Ronaldo Brasiliense:
Francisco Hernandez, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), esteve no Pará participando das audiência públicas sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. Nessa entrevista, ao site Amazônia.org.br, Hernandez assegura que a produção de energia por Belo Monte é superestimada, enquanto muitas perdas sociais e ambientais são omitidas, a exemplo do desmatamento que será gerado pelo aumento de fluxos migratórios na região, em decorrência da obra.
“Belo Monte superestima geração de energia”
P - Há quanto tempo vocês estão analisando o Estudo de Impacto Ambiental (EIA)?
Francisco Hernandez - Nós estamos analisando há 45 dias, aproximadamente. São 35 volumes, é um trabalho muito árduo, não há tempo suficiente para apontar todas as deficiências do estudo. Mas, com esse esforço individual e coletivo que estamos fazendo, temos conseguido levantar muitos pontos. Temos 15 pareceres já enviados pelos participantes, e estamos enviando outros pareceres para protocolarmos junto ao Ibama ao Ministério Público Federal.
P - Quais foram as falhas do estudo verificadas pelos pesquisadores até agora?
Hernandez - Muitas vezes, há questões especificas, mas uma visão comum é que os estudos de Impacto Ambiental, em vários dos volumes, apresentam lacunas, às vezes omissões, a respeito de problemas sérios e com conseqüências sociais e ambientais sérias. Em primeiro lugar, há a subestimação das populações afetadas, urbanas e rurais. O segundo ponto é que há subestimação das conseqüências socioambientais da obra no trecho de vazão reduzida. Em terceiro lugar, há a superestimação da energia gerada por Belo Monte, quando na verdade 39% da potência instalada da usina se transformaria em energia firme. E isso também tem uma conseqüência do ponto de vista da viabilidade econômica da obra. E essa ociosidade da usina abre sem dúvida possibilidade futura de outros barramentos.
P - Quais serão os impactos da obra à região do trecho do rio que terá vazão reduzida?
Hernandez - A análise hidrológica, no estudo, é insuficiente, a respeito do trecho de vazão reduzida após o barramento principal. Cerca de 3/4 ou 100 km da Volta Grande do rio Xingu vão ser submetidos a condições de uma falta de água severa. Então, podemos dizer que a vazão chamada ecológica nesse trecho não é suficiente para manter, nem ao mínimo, a diversidade de fauna e floresta no trecho. Isso, além de comprometer condições de navegação e conseqüência sobre o modo de vida da população. Por exemplo, na região onde seriam construídos os reservatórios dos canais, vários igarapés hoje existentes seriam seccionados, o que significa a morte dos igarapés e o comprometimento da atividade econômica que hoje existe lá. Então, o que se discute é que os empreendedores falam que a usina apresenta um índice de alagamento favorável, com apenas 516 km² de área alagada. Só que esse índice esconde que, se existe um alagamento relativamente menor, por outro lado, pela complexidade da obra, haverá uma região de secamento de ¾ da Volta Grande. Então, é uma obra complexa do ponto de vista técnico, econômico e ambiental.
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