quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Alcoa esclarece tarifa de energia

A respeito da matéria sobre os 30 anos da mineração no Pará, de autoria de Lúcio Flávio Pinto, o diretor de assuntos institucionais da Alcoa, Nemércio Nogueira, encaminhou carta à redação, esclarecendo alguns pontos da matéria.
Li seu artigo, como sempre bem informado, bem raciocinado e bem escrito. Me permita apenas duas ou três considerações:
1. Você fala em energia subsidiada para a Alumar, mas considere que (a) essa energia foi inicialmente adquirida "por atacado", que qualquer dona de casa sabe que tem menor preço; (b) o preço da energia para a Alumar sempre foi atrelado ao preço do alumínio (este sobe, o primeiro sobe também); (c) atualmente o preço que a Alumar paga por MW/h não só não tem qualquer subsidio, como é bem mais alto que seu preço no mercado spot no Brasil, o que torna o suprimento de energia da Alumar bem mais caro que o das melhores fábricas de alumínio primário do mundo; (d) o contrato atual da Alumar com a Eletronorte tem total transparência, tanto que foi baseado em leilão público; (e) se não existisse no Norte a industria eletrointensiva de produção de alumínio, que funcionou e funciona como cliente-âncora da Eletronorte, Tucuruí não existiria até hoje, fornecendo energia para milhões de consumidores paraenses e brasileiros;
2. A Alcoa tem interesse estratégico, sim, em investir no refino de bauxita para produção de alumina em Juruti e na implantação de Belo Monte, para eventualmente produzir alumínio primário na região. Mas todo esse nosso "sonho" de desenvolvimento da indústria de alumínio no Pará ainda precisa dar o primeiro passo: o sucesso da mina de bauxita em Juruti, que, por sua vez, depende de dispormos de energia elétrica no local, para substituir o óleo combustível (muito mais caro e menos ambientalmente recomendável) que estamos sendo obrigados a utilizar, devido à inexistência de eletricidade.
Nemércio Nogueira
Diretor - Assuntos Institucionais - Alcoa América Latina e Caribe

Resposta de Lúcio Flávio Pinto
A Alumar, implantada inicialmente pela Alcoa e Shell-Billiton, com a incorporação da Camargo Corrêa no meio do caminho, recebeu energia subsidiada da Eletronorte durante 20 anos, até 2004. Um subsídio inferior ao da Albrás, sua vizinha e concorrente de Barcarena, mas muito significativo, com todas as cláusulas a que Nemércio Nogueira faz referência. As duas tiveram as melhores tarifas no Brasil e, mesmo para quem consumia grande volume de energia constante, fez a diferença. Isto é história.
O diretor da Alcoa fornece um dado novo sobre o atual contrato, por mais 20 anos: de que é "bem mais caro que o das melhores fábricas de alumínio primário do mundo". Gostaria que os personagens desta história (Alumar, Albrás e Eletronorte) fornecessem seus dados para uma consolidação e prova dos nove. Como este jornal já registrou, inúmeras vezes, sem a menor reação do distinto público, se não houvesse corrupção - e da grossa - na construção da hidrelétrica de Tucuruí (que passou de US$ 2,1 bilhões no orçamento inicial para US$ 5,5 bilhões na contabilidade oficial, US$ 7,5 bilhões no cálculo alternativo e mais de US$ 10 bilhões na apuração mais rigorosa), não teria sido necessário subsidiar as indústrias eletrointensivas, como Albrás e Alumar. Quem disse isso foi o principal personagem dessa história, o engenheiro Eliezer Batista, ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce. O acréscimo da taxa de corrupção (e também pelo contrato excepcional da Camargo Corrêa já foi absorvido, mas se a energia agora fornecida pela Eletronorte à Alumar está tão cara assim, a que atribuir esse valor exagerado?
A Alcoa tem razão ao reclamar dos serviços da Rede/Celpa em Juruti, que a obrigam a recorrer a derivado de petróleo para ter a energia necessária à mina de bauxita, através de térmicas. Se as empresas privadas não resolvem o problema, cadê o governo, que continua oculto na oração? A "inexistência de eletricidade" no local é um indicador de que o representante da sociedade continuará a desempenhar um papel muito aquém do que lhe cabe nesta história.

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