segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Pará vai se industrializar?

Lúcio Flávio Pinto:

O Pará é o eixo de uma luta pelo controle da maior empresa privada nacional, a Vale do Rio Doce. De um lado, o presidente Lula. De outro, o executivo Roger Agnelli. O empresário permaneceu no seu posto, mas seu poder encurtou. Das negociações pode resultar a primeira grande siderúrgica paraense.

Março de 2010 pode vir a ser uma data histórica para o Pará. É quando o governo federal pretende inaugurar as eclusas da hidrelétrica de Tucuruí, uma das maiores em todo o mundo. A obra se arrasta há três décadas e já consumiu mais de um bilhão de reais, 80% aplicados durante os dois mandatos do presidente Lula. Todos os últimos presidentes deixaram de cumprir a promessa feita de restabelecer a navegação no rio Tocantins. Ela foi interrompida na segunda metade da década de 70, 350 quilômetros a sudoeste de Belém, para a construção da quarta maior hidrelétrica do mundo (a maior de todas inteiramente dentro do território nacional porque Itaipu é binacional).

Tucuruí começou a operar em 1984, depois de nove anos de obras. As eclusas continuaram na promessa, que, finalmente, será resgatada. Ela permitirá a transposição da enorme parede de concreto da usina de energia, com 70 metros de altura, através de dois “elevadores” hidráulicos e um canal intermediário, com sete quilômetros de extensão. Mas não transformará de imediato em hidrovia para carga de maior porte o Tocantins, o 25º maior rio do planeta, com 2.200 quilômetros de extensão. Logo a 43 quilômetros a montante do reservatório de Tucuruí há uma barreira, o pedral Lourenção, que precisará ser derrocado; 52 quilômetros antes de Marabá, o problema são os bancos de areia do Tauri, que exigem dragagem.

Os orçamentos desses dois serviços são medidos em algumas centenas de milhões de reais, mas sem eles está ameaçada a viabilidade de outro evento também previsto para março do próximo ano: o início da construção da Aços Laminados do Pará, a primeira siderúrgica de grande porte, para verticalizar a produção da mina de Carajás, que tem o minério de ferro mais rico da Terra. A Vale do Rio Doce, a única responsável pela oferta desse minério no Pará, a maior vendedora do produto no mercado internacional e a segunda mineradora mundial, também está à frente da Alpa. Embora tenha lançado o empreendimento em agosto do ano passado, sua implantação ainda não é dada como garantida.

Uma condicionante fundamental é a plena navegabilidade do Tocantins, de Marabá ao porto de Vila do Conde, por uma extensão de mais de 500 quilômetros, com garantia de poder absorver sem interrupções uma grande movimentação de carga. A Alpa deverá importar carvão mineral e exportar 2,5 milhões de toneladas anuais de placas de aço, dentre outras matérias primas e insumos que movimentará. As eclusas, com capacidade para 30 milhões de toneladas nas duas direções, têm condições de absorver a demanda projetada.

Nas condições atuais, a navegação acima da barragem apresentaria dificuldades para a operação da siderúrgica. E a ferrovia de Carajás, também sob o controle exclusivo da Vale, que é a via única de transporte pesado de hoje, estaria com sua capacidade comprometida pela elevação na produção de minério de ferro (para 130 milhões de toneladas anuais) e outros produtos, como manganês, ferro gusa, níquel e cobre, além de carga geral e passageiros. O governo terá que prosseguir os investimentos na hidrovia Tocantins/Araguaia, vencendo resistências internas e a carência de recursos financeiros, para que as eclusas não se tornem obra parcial, limitada.

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