sexta-feira, 9 de julho de 2010

Agora, o fogo

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal

Em 1967, Daniel Keith Ludwig era considerado o Tio Patinhas em carne e osso. Era um dos maiores milionários do mundo, tão insólito quanto o personagem de história em quadrinhos de Walt Disney. Só que, ao invés de nadar em dinheiro guardado na sua caixa-forte, se escondia de todos e se apresentava como se fosse um pobretão.

Tinha 70 anos de idade e problemas de saúde quando começou uma nova aventura empresarial: produzir fibra, grão e carne numa vastíssima possessão de terras - a princípio ele pensava ter-se tornado dono de 3,6 milhões de hectares, o maior dos imóveis rurais do Brasil – no interior da selva amazônica, quase na foz do rio Amazonas.

Seu objetivo era abastecer o mundo, carente desses produtos. Todos os olhares se voltaram para o seu Projeto Jari, com um glamour que outro milionário americano exótico, Howard Hughes, já não conseguia mais proporcionar à curiosidade mundial.

O Projeto Jari era a reedição da aventura fantástica que outro big-boss dos Estados Unidos iniciara quatro décadas antes. Henry Ford tivera uma idéia simples, mas que podia ser tão audaciosa quanto a de Ludwig depois: se a seringueira era nativa da Amazônia, por que não adensá-la na mata original, ao invés de transportá-la para outros sítios?

De três ou quatro espécies por hectare, conforme a dispersão natural, o plantio feito pelo homem acumularia centenas de árvores na mesma área. A produção, que já era pequena na Amazônia em 1927, depois de a região ter atendido as necessidades do mundo até 1912, numa época em que a indústria ainda engatinhava no uso da borracha, poderia estourar de novo.

Mas a floresta amazônica aprontou uma péssima surpresa para Ford: o adensamento da seringueira expunha a árvore a males para os quais ela só estava protegida na grande diversidade de espécies criada pela natureza. Em plantio homogêneo, a Hevea Brasiliensis era atacada por fungos e bactérias. O mal das folhas dizimou a plantação com a qual Ford pretendia se tornar auto-suficiente em borracha. Em 1945 ele entregou os pontos e abandonou um milhão de hectares que recebeu por concessão do governo do Pará, no vale do rio Tapajós.

O mesmo ocorreria com Ludwig ou, passados 40 anos, o melhor conhecimento sobre a Amazônia e um capitalismo mais bem estruturado lhe permitiriam vencer os desafios que derrotaram Henry Ford na jungle.

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