quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fábrica de chocolate na Transamazônica

O município de Medicilândia, na região do Rio Xingu, será sede da primeira
fábrica de chocolate do norte do País, a ser inaugurada no próximo sábado,
quatro de setembro, um investimento do Governo do Estado do Pará. A escolha
do município tem boa explicação: Medicilândia é o maior produtor de cacau do
Brasil e ajudou a colocar o Pará em segundo lugar na produção nacional de
cacau, liderada pela Bahia. A 90 quilômetros de Altamira, município sede da
região, o município destaca-se ainda pela qualidade da produção orgânica do
fruto, reconhecida no mundo inteiro.

Investimentos do governo estadual em parceria com a iniciativa privada na
agricultura familiar da região do Xingu/Transamazônica, nos últimos anos,
foram decisivos para o crescimento do setor. Com o aumento na produção do
fruto e melhoria da qualidade, a expectativa é de que até 2015 o Pará deva
liderar a produção nacional de cacau, segundo estimativas da Secretaria de
Estado de Agricultura (Sagri). Um bom indicativo é que, em 2008,
Medicilândia produziu cerca de 22 mil toneladas, 4 mil a mais que o ano
anterior.

Uma cooperativa de gestão agroindustrial, criada em maio deste ano, vai
administrar a fábrica. Serão processadas 360 toneladas de amêndoas para
produzir 400 toneladas de chocolate por ano, gerando, inicialmente, 10
empregos diretos e mais de mil indiretos.

Orgânicos valem 50% a mais no mercado

O Governo do Estado construiu e inaugurou o Centro de Referência do Cacau Orgânico, também em Medicilândia, um investimento de R$ 2,4 milhões, metade do Estado e metade da ONG
Fundação Viver, Produzir e Preservar - Transamazônica/Xingu (FVPP).

Com uma colheita de 60 mil toneladas anuais de cacau, o Pará é destaque por
seu fruto orgânico com certificação internacional, que o diferencia no
mercado. O cacau orgânico da Amazônia é exportado para a Europa desde 2008 e
custa em torno de 50% a mais que o não-orgânico

Com a fábrica, a expectativa é de ver o produto sair da região de forma
acabada. A fábrica de chocolate de Medicilândia chega para fortalecer todo o
processo de produção que há na região, unindo as inovações tecnológicas à
produção familiar do cacau plantado no sistema tradicional, aumentando o
potencial existente.

Com a extinção gradativa dos agrotóxicos nas plantações cacaueiras, a
produção de Medicilândia passou a ser quase totalmente orgânica. A criação
da Cooperativa de Cacau Orgânico da Amazônia (Coopoam) foi fundamental neste
processo. Com o incentivo da cooperativa, os agricultores utilizam
biofertilizantes produzidos por eles mesmos.

De acordo com informações da Sagri, é necessária uma quarentena de ao menos
três anos para livrar os pés de cacau da contaminação por agrotóxico. Só
depois desse prazo a cooperativa pode avaliar e certifcar o cacau produzido.

Destaque no mercado internacional

O cacau de Medicilândia é destaque em eventos no mundo inteiro. Representantes de fábricas do porte da Natura e da austríaca Zotter visitam Medicilândia para conhecer de perto o processo
natural de produção do cacau, que envolve diretamente oito famílias da região. A Zotter é uma fábrica que produz mais de 240 sabores de chocolate, com matéria-prima orgânica.

Os olhos estrangeiros se voltam para as etapas de produção e para a forma em
que é obtida a qualidade do cacau orgânico da Amazônia. Quanto mais apurado,
mais valorizado é o produto no mercado. A qualidade da produção orgânica,
considerada de primeira, atrai até compradores da Bahia, segundo produtores
locais.

Um grande incentivo para obter estes resultados foi a criação do Programa de
Produção Orgânica da Transamazônica-Xingu, que une cooperativismo e
agricultura familiar, tendo à frente a ONG FVPP e a Comissão Executiva do
Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Dentro das diretrizes do programa,
constam a preocupação com o plantio em sistema agroflorestal, a preservação
da floresta tropical, o controle de qualidade e a agricultura sustentável.
Além das cooperativas associadas, a iniciativa conta com a parceria do
Governo do Pará, governo federal e DED (Deutscher Entwicklungsdienst).

Nenhum comentário: