A atriz Vida Alves em dois momentos: como uma das estrelas da TV Tupi e, hoje, presidente da associação Pró-TV. (Foto: Divulgação/Acervo Pró-TV)
"Nós fomos pessoas de coragem". Conversar alguns minutos com a atriz Vida Alves, 82 anos, é viajar no tempo da TV em preto e branco, de tubo, revestida de madeira. Ela, famosa por ter protagonizado o primeiro beijo da história da televisão nacional, é uma das poucas pessoas que podem contar, com autoridade, a história da TV brasileira.
Afinal, foi uma das felizardas que estiveram nos estúdios da TV Tupi, no dia 18 de setembro de 1950, quando o magnata Assis Chateaubriand, reza a lenda, teria quebrado uma garrafa de champanhe em um dos 20 televisores que tinha comprado para "batizar" o início da transmissão do programa "TV na taba", com Homero Silva.
"Estava grávida de oito meses e meio, então não apareci ao vivo. Mas colaborei mesmo assim, assinando a composição da roupa de alguma atriz, como um colar que possa ter emprestado", brinca Vida, em entrevista ao G1. "Nós, pioneiros, éramos jovens que faziam 'TV a lenha', artesanal, que anos depois se internacionalizou e deu lucro. Nós fomos pessoas de coragem", resume.
A atriz-mirim Sonia Maria Dorce e o câmera Walter Tasca, na TV Tupi, em 1950. É dela a primeira imagem televisionada no Brasil: vestida de índio, ela saudou a inauguração do canal. (Foto: Divulgação/Acervo Pró-TV)
A atriz comenta que a emoção no estúdio era tão grande que, citando uma frase do então câmera-man Élio Tozzi, "se houvesse uma mosca ali, ela estaria em silêncio e emocionada". Para ela, o diretor artístico da TV Tupi, Cassiano Gabus Mendes, era um gênio, que soube montar uma programação ousada, com Shakespeare e Dostoievski.
"Hoje falta criatividade na TV, ousadia, preocupa-se apenas com os números [da audiência]. Na época, o Chateaubriand tinha 20 televisores, fora os outros mil que grã-finos compraram, ou seja, nós éramos o nosso ibope. Sei que foi imprescindível se popularizar, mas ficamos um pouco aleijados com o tempo", acredita.
Vida hoje é presidente da associação Pró-TV, que cuida do Museu da TV brasileira. Além do cargo, a atriz tem como ocupação escrever biografias dos profissionais que contribuíram para a construção da televisão no país. Segundo suas contas, já foram 1.800 até agora. “Só quando chego à minha que me esqueço das coisas”, brinca.
O índiozinho era o símbolo da TV Tupi que, em 1951, com Lia de Aguiar e Dionisio Azevedo, colocava no ar 'Sua vida me pertence', a primeira telenovela brasileira. (Foto: Divulgação/Acervo Pró-TV)
Neste sábado (18), ela será a mestre de cerimônias, a partir das 20h, de uma festa no Memorial da América Latina (São Paulo), com 160 artistas convidados, para celebrar a data especial. Ela estará ao lado de personalidades como Lima Duarte, Chico Anysio e Hebe Camargo, e sabe que terá de repetir a noite toda como foi aquele momento, em 1951, em que beijou o galã e diretor Walter Foster na telenovela “Sua vida me pertence”. A cena foi o primeiro beijo transmitido ao vivo da TV nacional.
“Foi um beijo marcadinho, sem ensaio e profundamente técnico. Eu e Walter combinamos a postura, ele pediu autorização para a direção e, eu, para meu marido. Foi um verdadeiro escândalo para a época”, diz, terminando a entrevista com uma frase de efeito. “A TV é reflexo da sociedade. E vice-versa”.
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