Lúcio Flávio Pinto:
Se Federico Fellini tivesse rodado seus “Boas Vidas” em Belém, teria pegado como tema as histórias dos irmãos Joseph e Alexandre Farah, os Farahzinhos. Eles foram dois “boas vidas” bem assemelhados aos seus pares italianos. Não por acaso, emergiram para a vida consciente após a Segunda Guerra Mundial, num mundo que ainda tateava na busca da fraternidade, da alegria de viver, do humor e da criatividade.
Num ambiente de democracia, os gêmeos transformaram Belém na ilha de Pago-Pago e se comportaram como os Sobrinhos do Capitão, personagens anarquistas de uma história em quadrinhos de sucesso nessa época. Armaram muitas e boas armadilhas para suas vítimas. Mesmo os que sofreram os efeitos de suas brincadeiras acabavam rindo também. Era um tempo risonho e franco, ou quase. Só nele os dois irmãos não seriam enquadrados numa lei de segurança qualquer, submetidos a processos e trancafiados numa jaula.
Depois de um longo currículo de molecagens sadias, os Farahzinhos se recolheram às suas numerosas famílias e passaram a se dedicar a contemplar o mundo. No dia 16, aos 71 anos, Joseph pediu a conta e se foi para outra dimensão, deixando órfão o Alexandre, sua esposa, filhos, netos, sobrinhos e todos nós, que entramos junto com eles nessa onda, que cresceu nos anos 50 e foi se chocar na praia de 1964, onde a espuma da nossa generosidade foi dissipada, mas não se perdeu. Era a energia que permanece dentro de nós para despedidas tão sofridas quanto a de Joseph Farah.
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