domingo, 28 de novembro de 2010

Barulho e silêncio

Lúcio Flávio Pinto:

Quarenta instituições religiosas, dizendo representar 1.500 igrejas evangélicas que funcionam em Belém, repudiaram o manifesto da OAB do Pará “em defesa do Estado laico”. Usaram adjetivos fortes – e numerosos – para qualificá-lo: duvidoso, grosseiro, desrespeitoso, acusatório, tendencioso, discriminatório, preconceituoso, ignorante e afrontoso. Reclamam da falta de identificação dos que assinaram o documento, divulgado quando questões morais e religiosas (legitimação ou não do abordo e da união “homoafetiva”) se tornavam o tema dominante na passagem do 1º para o 2º turno da eleição presidencial, deslocando do eixo os temas propriamente políticos e civis.
As entidades evangélicas arrematam sua nota de repúdio, veiculada como matéria paga na imprensa local, considerando o manifesto dos advogados “afrontoso à religiosidade da sociedade paraense, porque publicada em outubro, mês do Círio de Nazaré, e quando a Assembléia de Deus – igreja fundada aqui em Belém – prepara-se para celebrar o seu Centenário de fundação”.
Divergências e confrontos à parte, a manifestação expressa a força das igrejas evangélicas, com uma ênfase muito especial em Belém. Talvez nenhuma cidade tenha proporcionalmente (ou até em termos absolutos?) tantas delas, várias nascidas na capital paraense. Enquanto a pioneira Assembléia de Deus chega aos 100 anos, a que mais se tem expandido nos últimos anos, a Igreja do Evangelho Quadrangular, neste mês completa 37 anos. E deverá inaugurar uma sede tão esplêndida quanto a da Assembléia.
Todas devem ser respeitadas e devem ter motivos para comemorar, além de defender seu credo. A democracia existe para que as divergências e a pluralidade subsistam num ambiente de tolerância. Mas da mesma maneira como é compreensível a reação imediata e um tanto desmedida das instituições religiosas, é destoante o seu silêncio diante de tantos e tão seguidos malfeitos dos seus pastores, sobretudo daqueles – em número cada vez maior – que se lançam à política, nela praticando um fisiologismo sem qualquer inspiração bíblica. O silêncio, em certas ocasiões, é mais barulhento do que a gritaria.

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