quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

As belezas de Santarém e Alter do Chão


O Estado do São Paulo:

As águas quentes do Rio Tapajós seguem seu curso sem pressa. Verdes, transparentes. Passam por Santarém e levam barcos pela floresta. De um deles, não muito longe da orla, você vê chegar com força um Rio Amazonas de águas frias e rápidas. Barrentas.
O primeiro encontro é um fracasso, ainda bem. Por alguns quilômetros, você vai poder ver as águas correndo sem se misturar. O motivo - diferença de temperatura, densidade - pouco importa. Prepare a câmera porque logo um boto vai saltar.
É bem na divisa entre os dois rios que os botos ficam de boca aberta, à espera de tucunarés, pintados, dourados... Os peixes perdem habilidade na mudança de águas, os botos aproveitam e você clica.
Ver de perto esse encontro é necessário e emocionante. Mas o espetáculo continua a qualquer hora do dia, em vários pontos de Santarém. A cidade é toda voltada para o Tapajós - e tem outras atrações.
Ao descer da embarcação, corra para a Feira do Pescado, que funciona todas as manhãs em um trapiche de madeira à beira-rio. Ali, uma variedade de peixes amazônicos. Fresquinhos. Tome tempo para observar o divertidíssimo vaivém.
Depois entre na cidade para ter outro encontro. Dessa vez, com personagens históricos. Em casarios antigos, da época da colonização portuguesa, funcionam o Centro Cultural João Fona e o Museu de Dica Frazão.
No Centro Cultural, peças pré-históricas e cerâmicas tapajônicas contam a história de região. Mas nada substitui o papo com o artista plástico e idealizador do centro, Laurimar Leal. Aos 87 anos, cego, ele passa o dia ali, defendendo a cultura local.
Dona Dica Frazão é outra figura. No auge de seus 90 anos, ela faz questão de mostrar aos visitantes cada uma de suas criações. "Vocês nunca viram isso". Dona Dica confecciona vestidos e objetos com materiais da Floresta Amazônica. "Não tem tecido, é tudo natureza." Orgulhosa, ela conta que criou uma roupa para a rainha da Bélgica e mandou uma toalha para o Vaticano.
Para terminar o dia como se deve, tome açaí e vá ao mirante, no centrinho da cidade. Enquanto jovens com seus computadores aproveitam o Wi-Fi gratuito na praça, você senta e observa a orla agitada. As águas verdes do Tapajós. E a faixa barrenta do Amazonas, ao fundo.

Beleza singular

Praias de areia branquinha como você nunca pensou, águas cristalinas e rios que correm sem se misturar. Surpreenda-se em Alter do Chão e Santarém. A hora é agora


Camila Anauate/ ALTER DO CHÃO
 
Você ouviu dizer, viu fotos e chegou a imaginar as praias fluviais de Alter do Chão, no Pará. Mas no primeiro piscar de olhos diante do Rio Tapajós descobrirá que não era nada disso o que esperava. É mais cor, mais vida, mais natureza. Muito mais. É um fenômeno singular.
Nos meses secos, entre agosto e janeiro, o nível do rio baixa drasticamente, e extensas faixas de areia se revelam. Não qualquer areia. Mas branca, branquíssima. Aparecem galhos aqui e ali. Árvores, flores, barracas de palha. Aparece gente. A Ilha do Amor, enfim, ganha vida - e status de praia.
Então se esticar ao sol e mergulhar nas águas quentes e cristalinas do Tapajós é quase um delírio. Mas também vale aproveitar a época de seca para explorar melhor o rio e toda a Floresta Amazônica a seu redor. Alter do Chão, a 30 quilômetros de Santarém, é uma das principais vilas da região. A partir dali, de barco, dá para fazer passeios rio abaixo, visitar comunidades ribeirinhas e suas casas de palafita, invadir igarapés, ver botos e conhecer outras praias igualmente belas, mas um tanto mais selvagens.
Como a Ponta de Pedras, com um cenário absolutamente poético (vide a capa desta edição). Pisando na areia fofa, ao som das ondas (sim, há ondas!), você será capaz de descobrir cenas lindas e humanas. Como a criança - e seu cachorro - que ajudam o pai a pescar.
Tranquilidade. A Ilha do Amor é a mais conhecida e movimentada de Alter do Chão. A partir da orla da cidade, dá para chegar de barquinho ou caminhando mesmo, se o rio estiver bem baixo. É só dar alguns passos para ver aparecer no horizonte guarda-sóis coloridos, cadeiras de praia, caiaques e barzinhos à beira-rio.
Procure o da Suzete Lobato e se prepare para um banquete: peixes fritos, assados, recheados. Arroz, pirão, camarão. E muitas frutas fresquinhas. Nada por mais de R$ 30. Suzete só trabalha durante a temporada de seca e capricha na cozinha para conquistar os clientes. Tarefa fácil, basta provar.
Emoção. Depois de comer tão bem, dá uma certa preguiça de sair dessa paisagem. Mas guarde um pouco de disposição - e espere o sol baixar - para subir a Serra da Piroca. Você vai logo entender o porquê.
A trilha começa na própria Ilha do Amor. Uma caminhada leve entre árvores e sombras. Vento nas folhas, no rosto. Uma sensação gostosa, que vai diminuindo conforme a serra sobe. É hora de escalar a montanha. Degraus de terra, de pedras. Você se concentra tanto no percurso, na respiração, que quando para um momento para tomar fôlego e, sem querer, vira a cabeça, mais uma vez se surpreende.
Árvores a perder de vista, águas que cortam a floresta e bancos de areia. Respira e sobe. Mais rápido, mais alto. Lá no pico, faça um giro. Você vai ver a Ponta do Cururu, um braço fininho de terra que avança no rio. E ter a real noção de que, mesmo baixo, o Tapajós é quase mar.
A descida é tranquila e rápida. O sol já está caindo, mais ainda faz calor. O desejo, agora, é só cair na água. Mas, atenção, é preciso ter cuidado com as arraias, que costumam ficar por lá. Entre no rio cutucando a areia com um galho e depois relaxe.
É preciso estar em total sintonia para ver o sol se pôr. Quanto mais a bola de fogo se esconde atrás do Tapajós, mais as águas ficam prateadas. Brilham até arder seus olhos. Você insiste, desacredita. Mais um fenômeno, outra surpresa.
Como chegar: É preciso voar até Belém ou Manaus para ir a Santarém. O trecho SP-Belém-SP custa a partir de R$ 756 na TAM, R$ 818 na Gol e R$ 828 na Azul. Ida e volta de São Paulo a Manaus sai por R$ 648 na TAM, R$ 1.068 na Azul e R$ 1.078 na Gol
Melhor época: Se a ideia é curtir praia, vá de agosto a janeiro
Pacotes: Veja sugestões de roteiros por Santarém e Alter do chão no blog: blogs.estadao.com.br/viagem
O que levar
Repelente
Seja para caminhar na mata ou dormir em redes ao ar livre, passe repelente. Ainda mais se for época de chuva
Protetor solar
Não esqueça jamais - ou você vai se arrepender ao sentir na pele o sol a pino
Remédio contra enjoo
Para não sucumbir ao forte balanço do barco
O que trazer
Artesanato
Cerâmica tapajônica e peças feitas com materiais da floresta o turista encontra em todas as lojas. Dica:
Castanha do Pará
No mercadão de Santarém, 100 gramas por R$ 10
Doces amazônicos
Bombons de cupuaçu, açaí e castanha em lojas e vendas

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