Lúcio Flávio Pinto
À margem de mais um escândalo que estourou na Assembléia Legislativa por causa de fraudes praticadas na folha de pagamento de pessoal, há uma questão de gravidade nacional. O problema saiu dos gabinetes e corredores a partir da constatação de que uma servidora temporária, que, apesar dessa condição, chefiava a seção, não só conseguia empréstimo com desconto em folha, apesar de não ser servidora estável. Ia além dessa irregularidade: os empréstimos superavam – e muito – o permissivo legal, que é de no máximo 30% do valor dos vencimentos.
Antes que o assunto chegasse às manchetes da imprensa, um graduado integrante de um dos tribunais da terra havia garantido que, depois de investigar o tema, chegara à constatação de que 85% dos servidores públicos, em todos os níveis, estão endividados, por conta do desconto em folha, o empréstimo consignado, que o governo Lula transformou em farra e é uma das origens de outro escândalo, este com grande repercussão: o do “mensalão” dos parlamentares.
Segundo a fonte, o percentual de comprometimento do salário vai de 30% a 70% do que esses gastadores deveriam receber. A compulsão pelo consumo e as despesas descontroladas levaram os bancos a oferecer crédito em 100 meses. Acontece que alguns dos devedores, depois de fazer o contrato, fecham a conta num banco e a abrem noutro, criando problemas para o ressarcimento dos empréstimos.
Por isso o Itaú e o Santander, ainda de forma cautelosa, iniciaram uma campanha subliminar em favor do consumo consciente. Sabem que, a se manter a progressão, vai estourar tudo. Vários ministros das altas cortes da justiça, tanto as estaduais quanto as federais, estão endividados, embora recebam salários altos. Também ministros do poder executivo. E daí pra baixo. Muitos já estão nas mãos de agiotas.
A independência e autonomia do serviço público estão ameaçadas por essa corrosão por dentro, como “nunca dantes” na história do Brasil. Foi para ganhar contas para empréstimos consignados que alguns bancos se dispuseram a pagar “por fora” para políticos e outros agentes graduados do poder público. É um vírus corrosivo que lavra, incontrolável, nas entranhas do serviço público. Não só no legislativo do Pará.
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