quarta-feira, 23 de março de 2011

Situações inusitadas e a intolerância política


Miguel Oliveira
Editor do Blog do Estado

O leitor do Blog do Estado pode não ter prestado atenção muito bem ao ponto e ao contraponto de dois fatos que foram registrados nos últimos dias em Santarém.

Como situações antagônicas se confundem intrinsecamente, resolvi abordar essas incongruências.

Vou começar pelo futebol, uma assunto mais ameno.

Ontem, recebi a visita do médico Bruno Moura, vice-presidente de um time local, que veio me falar entusiasmado de um projeto de construção de um centro de treinamento que, no espremer de suas reais possibilidades, acabará se resumindo a um campo de futebol.

Pois bem. Bruno me informou que estaria disposto a patrocinar uma campanha de doação de material de construção para erguer o tal CT. 

Cético a iniciativas desse gênero, e embora reconhecendo a capacidade empreendedora do médico, fiz-lhe uma única pergunta que lhe deixou embaraçado: não seria melhor uma campanha para adquirir jogadores, um goleiro, um zagueiro, um atacante, ao invés de tijolo e cimento?


Primeiro fato: um time que não tem nem jogadores em seu plantel, tem condições de alavancar doações para construção de um CT? 


Agora, vou comentar um assunto polêmico. Sei que meu amigo Paulo Lima, professor do Iespes, está curioso por saber meu posicionamento à respeito do tumulto que ocorreu por ocasião do cancelamento da aula magna que seria ministrada pelo professor Armando Mendes para os calouros da UFOPA.


Assim como @plima, atuei no movimento estudantil e sei perfeitamente que estudante não se deve deixar-se intimidar ou calar-se. Mas o que eu presenciei - vou usar essa hipérbole- de corpo presente me deixou profudamente chocado.


Tenho alguns anos de estrada, tanto na vida profissional quanto na acadêmica e por isso não faço coro à simplista posição de que tudo que é governo, 'soy contra'. O que ocorreu na UFOPa ocorreu também, em similar situação na Câmara de Vereadores, ontem. Aqui estão o ponto e o contraponto de uma mesma situação: a intolerância política.


Na Câmara Municipal de Santarém, discursava o vereador Carlos Jaime(PT), quando lideranças de invasores de terrenos ingressaram no plenário da Casa portando faixas e cartazes. O parlamentar abordava o dia mundial das águas, mas como não falava sobre o que os manifestantes queriam ouvir, todos deram-lhe as costas, em sinal de protesto.

O vereador não merceia esse tipo de manifestação contra si. Ele tem sido um parlamentar atuante em defesa das 'lutas populares'(jargão que a esquerda festiva adora utilizar) e um dos poucos que, ao meu ver, saber atuar fazendo a diferença entre partido e governo. Mesmo assim, Carlos Jaime foi hostilizado.


Mas voltando ao caso da UFOPA. Embora não se possa afirmar que a reitoria da instituição em todos os momentos da implantação da nova universidade tenha adotado a 'mais ampla postura democrática', o pensamento inverso a esse também não é verdadeiro. Se há falhas nesse aprendizado há que se aperfeiçoá-lo. O que não se pode é apostar na tática surrada do 'quanto pior, melhor.'


Eu liderei protestos, interrompi reuniões, comandei passeatas quando fui estudante da UFPA. Lembro-me bem que houve situações de tensões com a reitoria, mas agiamos com responsabilidade política de vanguarda, sem expor os demais alunos a constrangimentos e nem permitíamos que nossos atos servissem de motivo para que a reitoria alegasse que concorríamos para por em perigo a integridade de estudantes, servidores e professores.


Em mais de uma ocasião, por exemplo, parcela de estudantes que não comungavam de nossos ideias àquela época, respeitava nossas posições, adotando a tática do silêncio. Mas o que eu presenciei na UFOPA me deu saudade dos embates politizados nos tempos da ditadura. Vi estudante vaiando estudante, calouro impedindo que lideres do protestos explicassem seus pontos de vistas. E professores sendo solenemente ignorados pela maioria de seus alunos.


Por vias transversas, o que vi na UFOPA, me deu vergonha. Vergonha de ver uma minoria que a todo custo querer implantar uma liderança ou representatividade que não conquistou democraticamente. Me envegonho de ter presenciado um protesto que, ao invés de ser apoiado pela maoria esmagadora da platéia, foi recriminado publicamente. Há algo muito errado nesse jogo politico que é travado intramuros da UFOPA.

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo comentário.

Antenor Pereira Giovannini disse...

Sr Editor -
Com relação a essas situações permita comentar:
1- Não sei o que houve na aula inaugural da UFOPA, Tive oportunidade de receber e publicar no blog a Carta Aberta feita pelos alunos. Concordo que haja maneiras e maneiras de se fazer ouvir. Mas, há de convir que muitas vezes a intolerância o faz tomar decisões nem sempre agradavéis para que sua opinião e vontade sejam no minimo analisadas.
2- Quanto a questão de futebol sem torcer para nenhum clube local, sou totalmente favorável a que se pensem num CT mesmo que não haja jogadores. Do que adianta trazer medalhões rodados por todo o Brasil para fazer número aqui em Santarém? Que beneficio traz al clube esses tipos de jogadores? Que tal se pensar em montar um CT para formar jogadores na idade sub-15, sub-18 e sub-20. Formar homens antes de atletas e depois quem sabe partir para um time profissional? Futebol profissional hoje é comércio puro e não será com migalhas que se consegue ter exito com um plantel profissional. Não basta a vontade do torcedor senão houver muita receita. Foi-se o tempo do amor à camisa e se fazia um time. Creio que o caminho de se ter um CT e a partir daí investir em categorias de base se torna muito mais atrativo do que ser apenas coadjuvante de campeonato profissional cuja sede fica a 1000 km de Santarém.

Anônimo disse...

Caro Sr. Antenor Giovannini,parabéns pelo comentário, faço minhas as suas palavras em relação ao assunto futebol, e parabenizo a diretoria do clube local ao qual o sr. editor não faz questão nenhuma de mencionar o nome, que aliás acho uma tremenda falta de respeito, quando você senhor editor quizer dar uma informação faça-a completa e por favor der nomes aos gatos.

Anônimo disse...

Meu caro,

As suas palavras refletem o sentimento da maioria esmagadora da UFOPA, que espera pacientemente a dissolução do grupo reacionário. Nada que se faça ou que se fala contra o pensamento comum dos anarquistas das tres classes(docentes, técnicos e discentes), é respeitado e a reação é na base da intimidação truculenta. Querem inviabilizar a universidade nos moldes que foi criada, mas ignoram que isso poderá inviabilizar o processo como um todo e o Oeste do Pará perder a Universidade que conquistou as duras penas.