sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sebastião Hoyos morre na Suiça

Sebastião Hoyos: a incrível saga de um santareno
Foto: Diário do Pará





 
 O ex-militante comunista e ilustre santareno Sebastião Hoyos, faleceu terça de ataque cardíaco (21/06) na Suíça. Seu corpo chegará em Santarém na semana que vem para ser enterrado no município, como era de sua vontade. Segundo informações de familiares, Sebastião foi encontrado morto no baheiro de seu apartamento por um neto seu. Seu corpo está sendo necropsiado na Suíça e já está liberado para o traslado para a família.


Hoyos fez história na década de 60, fugindo do regime militar e passando por diversas cadeias, até chegar à Suíça. A história toda, desde a juventude em Santarém até o ponto em que Sebastião se tornou perseguido e depois um cidadão suíço, poderia ser argumento de um grande roteiro cinematográfico, no entanto, ganhou vida nas 300 páginas de “Champ-Dollon, Cela 211 - Uma Aventura Revolucionária”, nome homônimo da cela, que foi a casa e o castigo daquele que hoje é celebrado pelo escritor também santareno Carlos Mendonça como um exemplo de resistência e força de vontade.

O livro, que mistura realidade e ficção, foi lançado e fevereiro de 2009 pela editora Paka Tatu. Além de uma biografia, o autor Carlos Mendonça quis retratar a imagem de um homem que, para ele, merece grande admiração. “Eu tive contato com a história de Sebastião na época em que tudo aconteceu. Não éramos amigos, nem nos conhecíamos, mas compartilhamos a mesma formação, frequentamos os mesmos lugares, praias... Então me sinto, de certa forma, ligado a ele. Muito tempo depois, eu pude conhecê-lo, por coincidência. Estava na Suíça e pude conversar com ele pouco antes de ser preso. Foi assim que começamos essa relação de cumplicidade e pude ter acesso a tantas histórias fantásticas que ele me narrou”, relembra Carlos.

A história de lutas e cadeias de Sebastião começa na Guiana Francesa, em 1964, onde o jovem, com 25 anos na época, fugia da repressão do Regime Militar. Sua fuga aconteceu de barco, na verdade, canoa, ao lado de figura conhecida como “Amaral” citado no livro com um dos grandes amigos e colaboradores de Sebastião. Na Guiana, ele viveu por oito anos, se envolveu com movimentos políticos de independência da Guiana em relação à França, mas segundo Carlos Mendonça, não era nenhuma participação ativa. “Ele apenas conversava com eles e não estava participando das manifestações ativamente. Mesmo assim, ele foi preso e deportado para França, em 1972, onde ficou encarcerado por um mês, até parar numa pequena cidade do interior, chamada Mouchard, onde a justiça francesa o impedia de sair”, explica Carlos.

Um dos motivos para a prisão de Sebastião ter acontecido, seriam as supostas ligações políticas do acusado em relação aos movimentos de independência. É provável que a França não estivesse interessada em divulgar nada relacionado ao tema.

No entanto, a França não segurou Sebastião por muito tempo e cinco meses depois, ele fugiu para a Suíça, onde conseguiu viver em Genebra com a anistia cedida pelo próprio país. “Naquela época, ele começou a trabalhar em diversos lugares até virar funcionário de um banco. Alguns anos depois, já na década de 90, houve um grande assalto e Sebastião foi acusado de ser um dos integrantes da quadrilha. Foram quatros numa cadeia assistindo diversas cenas terríveis de tortura, solidão, sem ao menos ter um julgamento. Ele mandou cartas para juízes, promotores e políticos denunciando a sua situação. Ele conseguiu a liberdade a partir da sentença do Supremo Tribunal de Genebra. Hoje ele vive com duas nacionalidades, entre a Suíça e o Brasil, no entanto, ainda há a chance do caso dele voltar à tona no Supremo Tribunal Europeu” diz Carlos.

Sebastião viveu 18 anos na Suíça, trabalhando em bons empregos, até que o assalto do banco mudasse a sua vida, em 1990. Depois de sua soltura, em 1994, como diz Carlos Mendonça, ele tenta levar uma vida normal, com sua dupla nacionalidade, transitando entre o Brasil e a Europa.

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