Lúcio Flávio Pinto
A pesquisa encomendava por O Liberal ao Vox Populi incluiu mais dois temas. Um, foi a divisão do Pará. A pergunta feita (a todo o universo e não apenas aos moradores da capital) foi: “De maneira geral, como você avalia a possibilidade de o Pará ser dividido em três Estados?”. Considerando a margem de erro, houve empate técnico e qualquer prognóstico seria temerário: 33% acham que a divisão é negativa, 31% a consideram positiva e 29% não sabem ou não responderam.
No cruzamento por região, 57% da população de Belém acham a divisão negativa, contra apenas 9% de positivos e 29% de indecisos. Mo interior, surpreendentemente, apenas 37% do interior aprovam a criação dos dois novos Estados propostos, 26% são contra e 29% estão indecisos.
Já diante da pergunta seguinte (“Sabendo que uma das etapas desse projeto é a realização de um plebiscito com a população paraense, qual seria o seu voto?”), a oposição ao retalhamento na capital sobe para 67% e a posição favorável no interior chega a 43%, reduzindo-se a margem de indecisos para 20% e 22%.
Que conclusão tirar desses números? Que a pesquisa é de pouca valia para aferir a disposição do eleitor que irá votar no plebiscito de 11 de dezembro. Porque não pondera os resultados pelo peso eleitoral do interior ou da capital. Não basta indicar os resultados da sondagem em Belém e no interior se não está acrescentado o percentual de cada uma das partes no colégio eleitoral. Mesmo se considerado apenas o interior, a pesquisa teria que ser subdividida entre os dois Estados propostos (Tapajós e Carajás) e o restante do interior, com as devidas ponderações.
O erro é elementar. Espanta que o Vox Populi o cometa. Mas não surpreende, sabendo-se quem é o cliente. Os objetivos de O Liberal são utilitários. Talvez por isso o responsável pela encomenda tenha levado dois meses para divulgar a pesquisa, preparando bem a fórmula. Ela teria que atender o outro objetivo, de atingir o governo de Simão Jatene. Quanto a este quesito, a pesquisa parece bastante convincente. Por um detalhe simples e evidente: coincide com a realidade perceptível empiricamente.
Verifica-se que o novo governo é mal avaliado em todos os setores sociais, por ordem de gravidade: saúde, segurança pública, educação (estrutura física das escolas) e emprego. Mas verifica-se também que enquanto esses segmentos são considerados críticos em Belém, o interior sente mais a falta de estrada e de apoio à produção do que, evidentemente, a capital. Os problemas sociais nos ermos paraenses já fazem parte da rotina do abandono, por isso os índices de críticas são menores. Mas não tanto que não imponham o problema espacial do Pará como vital, saiam ou não os novos Estados. Se o Pará voltar a ser o mesmo depois do plebiscito, a situação só vai piorar. E se os dois projetos forem aprovados, será igual – ou pior.
Triste Pará.
Pinóquio de novo
O Liberal abriu manchetes na sua edição dominical do dia 21 de agosto para anunciar que é o jornal de maior credibilidade no Pará. Seu índice seria de 46%, contra 28% do jornal A (presume-se que seja o Diário do Pará, embora não tenha havido indicação do nome) e 10% provavelmente do Amazônia, o segundo jornal diário dos Maioranas.
Como o Diário é o jornal de maior vendagem no Pará e O Liberal talvez tenha perdido o segundo lugar para o irmão mais novo, o Amazônia, que tem apenas uma década de vida, o índice de credibilidade seria apreciável. Mas há motivos fortes para encarar sem muita credibilidade a própria pesquisa que forneceu os números para a auto-propaganda de O Liberal.
A pesquisa, realizada pelo Vox Populi, foi aplicada em Belém e 58 (dos 143 municípios do Pará), entre os dias 18 e 22 de junho deste ano, com margem de erro de 2,8%. Foram entrevistadas 1.200 “moradores do Pará. Coerente com esse universo, a sondagem sobre o público leitor incluiu todas as entrevistas. Mas questionamentos mais importantes foram aplicados apenas na capital. Foi o caso da pergunta sobre o jornal “que apresenta maior credibilidade e sobre a frequência da leitura de O Liberal. Por que essa restrição?
É difícil responder. O jornal não forneceu a relação dos municípios onde o questionário foi aplicado e qual o peso de cada um. Também não informou quantas pessoas foram entrevistadas em Belém e na capital. A tabulação dos dados não é suficientemente clara. E as perguntas permitem a dúvida. Ou seja: para se apresentar como campeão de credibilidade, O Liberal se utilizou de uma pesquisa pouco crível.
Não tinha como ser de outra maneira. O jornal mantém informação errada sobre a sua edição. No cabeçalho da capa do dia 21, ela é registrada como sendo a 33.302ª. O jornal tem 64 anos de circulação (fará 65 em novembro), que todos sabemos não ter sido contínua, sem falhas, e que não foi rigorosamente diária durante boa parte da sua história. Mas se tivesse circulado 365 dias por ano, ao longo de 64 anos, estaria na edição 23.360. Para que estivesse na edição 33.302, era preciso que o ano tivesse 520 e não 365 dias.
Assim, como O Liberal pode aspirar à credibilidade do leitor?
Um comentário:
O que mais me surpreendeu não foi a pesquisa , o que me surpreendeu é a matéria dizer que ser for criado os estados do Tapajós e Carajás, a situação ficará igual ou pior que está.
Que vergonha, um jornal que leva o nome do Estado do Tapajós divulgando esse tipo de opinião nada tem a acrescentar a população, pelo contrário se tem a confundir ainda mais a cabeça do eleitor.
Acredito que nessa hora quem não ajude a criar o Estado do Tapajós, pelo não deveria atrapalhar.
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