segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pontes amazônicas e o “outro lado”


Lúcio Flávio Pinto

Ao inaugurar a ponte ligando por terra Belém ao balneário de Mosqueiro, em 1976. o general-presidente Ernesto Geisel perguntou ao governador Aloysio Chaves o que havia na ilha que justificasse a obra. Pensava numa atividade produtiva que precisasse da ligação para se desenvolver melhor ou do efeito multiplicador do investimento em infra-estrutura. Desacostumado ao lazer, o hierático presidente cobrava resultados que garantissem retorno à aplicação de dinheiro público.

Por vias tortas, o tempo daria dose imprevista de razão ao general neo-prussiano. A ponte só piorou a ilha de Mosqueiro. Não por algum atavismo maligno da modernidade e do “desenvolvimento”. Simplesmente porque houve uma invasão da ilha por gente necessitada de moradia, especuladores e aproveitadores. E a fuga do poder público, responsável pela regulação da vida em sociedade e a aplicação das leis. Mosqueiro está sendo saqueada e dilapidada.

Mas tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva podiam fazer o mesmo questionamento ao governador Omar Aziz (do PMN) em relação à ponte do rio Negro, no Amazonas, que inauguraram no dia 24. A ponte, com quase 3.600 metros, ligando Manaus a Iranduba, é duas vezes e meia mais extensa e muito mais sofisticada do que a de Mosqueiro. Seu custo passou do bilhão de reais, 90% a mais do que estava previsto no seu orçamento inicial, incluindo obras complementares. Levou quatro anos para ser concluída.

Mas o que tem do outro lado? De significativo ou importante, nada. A ponte não dinamizará os fatores endógenos do outro lado. Será, pelo contrário, um instrumento de invasão, a serviço da expansão de Manaus, com todos os efeitos danosos do seu crescimento caótico. A conurbação ocorrerá não por uma fusão, mas pela intrusão unilateral, o que significa expandir os problemas ao invés de agregar as soluções. E a um preço extremamente alto. Embora tenha se tornado um ponto de atração para os manauaras e com possibilidade de reforçar o prestígio do governador na indicação do candidato à sua sucessão (ele já está no segundo mandato).

No fim, guardadas as devidas diferenças, a ponte do Rio Negro, a maior já construída sobre águas fluviais no Brasil, poderá ter as mesmas conseqüências da pobrezinha ponte do Mosqueiro. Quem viver, verá.

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