quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E o dia seguinte ao plebiscito?": Contraponto de Evaldo Viana

Contraponto de Evaldo Viano ao artigo de Lúcio Flávio Pinto "E o dia seguinte ao plebiscito?":

Caro Lúcio Flávio,


Desnecessário tecer comentários a respeito do respeito e admiração que tenho por você e sua vastíssima obra, que é, aos meus olhos, tanto jornalística quanto literária.
Mas, sem desdouro e apreço pela sua obra e o que ela me inspira, estou no dever de apontar algumas incorreções no seu artigo "E o dia seguinte ao Plebiscito", mais especificamente no que se refere à sua opinião (sem absolutamente nenhum fundamento) de que o Estado do Tapajós nasceria com uma Receita modesta e se veria em sérias dificuldades para honrar suas despesas.
É equívoco grave de sua parte. Nesse ponto você não pesquisou, não se aprofundou na matéria e emitiu opinião desprovida de valor jornalístico e, mais ainda, sem nexo com a realidade.
Em relação a esse assunto, a viabilidade financeira do Estado do Tapajós, escrevi dois artigos estimando, com fulcro na Constituição Federal e legislação correlata, as nossas receitas em mais ou menos R$ 3,6 bilhões.
Note que ninguém contestou minhas projeções, a não ser pela negação oca e vazia.
Bem poderia você referir-se ao estudo do economista do IPEA, Rogério Boueri, que fixou, de maneira irresponsável e atabalhoada, nossas receitas em R$ 1,1 bilhão.

Esse não conta, não é digno de crédito, não vale sequer ser mencionado. Basta uma espiadinha na página da Secretaria do tesouro Nacional, consultando o repasse do FPE e verás que NENHUM Estado das regiões Norte, Nordeste e centro Oeste (aos quais a LC 62/89, com fundamento na CF/88 reserva 85% do bolo que esse ano será de R$ 60,0 bilhões) receberá em 2011 menos de R$ 1,2 bilhão. Só isso basta para desmoralizar o cálculo (atinente As receitas) do confuso economista.
E veja você que os critérios (de hoje e de sempre para manter o comando constitucional) serão inexoravelmente os que mais adequadamente promovam o equilíbrio socio-econômico entre as unidades federativas, o que significa destinar um bolo proporcionalmente maior aos mais populosos e de menor renda per capita.
O Tapajós será muito populoso? Não. Temos apenas 1.167.000 habitantes.
Temos a menor renda per capita? SIM. Graças ao abandono e desassistência de poder público estadual ( não apenas), hoje temos a menor renda per capita do Brasil.
Somando-se o FPE com as receitas próprias chega-se ao montante de R$ 3,6 bilhões e veja que se dividirmos essa valor pela nossa população chega-se a uma receita (estadual) per capita de R$ 3.084,83, muito superior à do Pará, hoje em pouco mais de R$ 1.648,00.
Tente imaginar Lúcio Flavio, o que não será possível fazer pela nossa região com recursos dessa monta? Imagine podermos aumentar o efetivo das polícias civil e militar e melhor remunerar nossos policiais! Pense no que esse estado pode significar na área de saúde, na possibilidade de atração de médicos em número suficientes para os 27 municípios, em particular para os 12 onde não sequer um desses profissionais! Pense nos investimentos possíveis na área da educação! Imagine podermos contar com 1 juiz/promotor/defensor/
delegado para cada grupo de 10.000 habitantes, quando hoje, na mais generosa das hipóteses, temos uma relação de um para cada grupo de 50.000 ou 60.000 habitantes!
É certo que vais nos perguntar sobre o perfil ou padrão de políticos que espreitam os cargos que serão criados com a criação do Tapajós. E respondo: Têm o mesmo fenótipo e genótipo dos políticos do Pará
E mesmo assim, vale a pena lutar pelo Tapajós? SIM. Com o queijo próximo, os hamsters estarão mais ao alcance de nossas vistas.
Bom, talvez seja pedir muito, mas reflita com mais vagar sobre a viabilidade financeira do Estado do Tapajós e, ao final, constatado o equívoco em que sua pena incorreu, estenda-nos a mão com um pedido de desculpas e aceite o nosso abraço pelo reconhecimento do seu valor e da inestimável contribuição da sua notável obra jornalística.

6 comentários:

Anônimo disse...

Respeito seus pontos de vista e seus cálculos, caro Evaldo. Já li seus artigos. Mas não me convenci pelo seu raciocínio, que é feito em tese, através de dedução, e não pela análise específica das receitas, sobretudo do FPE, na hipótese de surgirem duas novas unidades federativas. Você não devia ter opinião tão drástica sobre o trabalho do técnico do Ipea, que me pareceu bem feito. Mas a questão não é só de ter mais ou menos recursos (com acentuadíssima dependência das transferências federais), mas de gestão e visão do desenvolvimento. Espero que o blog reproduza meus outros artigos e que venhamos a ter um debate mais tolerante e técnico, em benefício de Santarém. Obrigado pelo seu juízo sobre o meu jornalismo. Um abraço. Lúcio Flávio Pinto

Anônimo disse...

Caro Evaldo,

Brilhante a sua expósição sobre a desvinculação do Tapajós do Pará. O Tapajós - a meio século - tende e tenta viver a sua própria vida. Aqui vai a minha humilde proposta: Paraenses, fiquem com o Carajás e libertem aqueles que não querem continuar paraenses. De longe, fico torcendo para que isso aconteça. Um abraço mocorongo ausente e saudoso.

PC de Castro disse...

Prezado Lúcio.
Sou leitor assíduo de seu Jornal Pessoal.
E até que o plebiscito fosse aprovado, através de acordo de lideranças ( expediente legislativo usual que você tanto condena), nunca li nenhuma linha sobre o assunto em mais de 500 edições do JP.
Pelo que sei, a proposta de criação de Tapajós, assinada pelo senador Mozarildo, a pedido de dezenas de lideranças políticas, comunitárias e empresariais da região, tramitava desde 2000.
E olhe, Lúcio, isso é tempo pra burro e eu não vi você se importar com esse assunto, como o faz mais recentemente, com tamanha propriedade.
Nese particular, você também tem sua parcela de culpa pelo rumos que a consulta plebiscitária tomou.
Lamento que, agora, apegado a detalhes meramente formais do projeto de lei, furte-nos de seu voto ao Tapajós.
Mas ainda há tempo. A votação é só domingo.
Um afetuoso abraço,

Paulo Cezar Magalhães de Castro

Anônimo disse...

Parabéns Evaldo e Lúcio Pinto.Só mesmo num blog de jornalistas de verdade a verdade vem à tona. Embora tardia. Sempre fiquei intrigado do porquê desse espaço tão democrático ter sido pouco acionado por aqueles que defendem posições opostas diante da consulta popular que se avizinha. Por outro lado, fico feliz pelo Blog do Tapajós On Line ser tão pluralista que ás vezes pareça contraditório por que defende a causa revisionista dos limites territoriais do Pará. Isso me serve de consolo de que nem tudo está perdido. Estou à espera do segundo round desse profícuo debate.

Anônimo disse...

Caro PC. Não tenho tempo no momento para reler todos os 500 números do Jornal Pessoal, como você diz ter fceito, e lhe apontar todos os artigos que já escrevi sobre as questões territoriais do Pará e os projetos de emancipação. Mas lhe garanto que não são poucos nem recentes. Mas não agi só no JP. Se você ler a Memória de Santarém encontrará matéria de O Jornal de Santarém sobre o lançamento da pedra fundamental da Faculdade de Filosofia, em frente ao Seminário, em 1967. Eu estava presente e também atrás do projeto, que tentava dar um passo concreto para a autonomia do Tapajós, quando meu pai (de quem eu divergia em vários pontos) era prefeito. Em diversas palestras em Santarém tratei do problema. Numa consultoria que dei para os Macrocenários do Pará 2000 também introduzi o projeto de uma secretaria de gestão territorial, que preparasse as consciências para a questão espacial. O que acontece é que, com o tempo, mais informação e mais experiência, evoluí para um projeto que, me parece, pode realmente mudar as coisas na sua substância, o que os projetos a serem votados no plebiscito não fazem. Essas idéias você pode acompanhar no JP, se fizer uma nova leitura. Aliás, escrevi um folheto, O Pará dos Paraenses (Propostas de um programa político sério), para as eleições de 1994. O folheto tem 35 páginas. Vou citar só um pequeno trecho: "Juridicamente o Pará continua a ser um Estado uno, mas economicamente e socialmente está fracionado, com polos autônomos, independentes até mesmo das incompetentes lideranças que tentam viabilizar o novo desenho espacial da Amazônia Oriental". Dante Alighieri reservava aos omissos o pior lugar no seu inferno. De omisso eu não posso ser acusado. Ao menos a sério, penso eu. Quem quiser dizer o contrário, que prove. Um abraço, Lúcio Flávio Pinto

Daniel Nascimento-e-Silva, PhD disse...

Senhores,
Pelos comentários, dá a impressão de que esquecem que o plebiscito é apenas a primeira etapa de um longo processo de separação. Pode acontecer de a população decidir desmembrar o Pará, mas, nas etapas posteriores, sobre as quais os paraenses não terão controle, o desmembramento não ser ratificado.
Evidentemente que, com gestão, qualquer território de qualquer tamanho pode se tornar desenvolvido em pouco tempo... No entanto, a história tem mostrado que não há nenhum exemplo de desmembramento territorial no planeta que houve involução.
Daniel Nascimento e Silva, PhD em Administração