Em janeiro de 1990 o estaleiro Velrome, instalado em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, entregou o último navio de grande porte que a Docenave lhe encomendara. Era o Doceserra, de 170 mil toneladas.
Junto com o Docerio, entregue antes, era o maior graneleiro até então fabricado no Brasil. Só essa frota era capaz de transportar 500 mil toneladas.
Em 1980 a Docenave tinha 14 navios. Em 1990, 23 navios próprios, com capacidade para 2,8 milhões de toneladas, mais cinco navios afretados (com capacidade de 342 mil toneladas), além de seis rebocadores.
No total, os 31 navios podiam transportar de uma só vez 3,2 milhões de toneladas. Os grandes graneleiros iam e vinham do Japão sem precisarem reabastecer.
Em 1989 a Companhia Vale do Rio Doce, proprietária da Docenave, exportou 88,5 milhões de toneladas de minério de ferro, sendo 30 milhões pelo Sistema Norte, que entrou em operação em 1984, 42 anos depois do início da extração de minério no Sistema Sul (Minas Gerais-Espírito Santo).
Isto significa que a Vale, além de ser a maior exportadora de minério de ferro do mundo, era também a que mais transportava minérios. Ou seja: faturava grande parte do frete pago na operação comercial. Frete que podia ser um negócio mais rentável do que a lavra mineral.
Com a privatização, a Docenave foi criminosamente sufocada. A frota foi sucateada e vendida a preço de banana. A empresa só não morreu porque a receita do frete interoceânico para a Ásia se tornou tão atraente que foi necessário ressuscitá-la. Agora ela enfrenta a reação da China, que quer continuar a comandar esse setor estratégico e imensamente lucrativo.
A China fechou seus portos para os supergraneleiros que a Vale encomendou na Coreia do Sul e na própria China. Alegou que os terminais não podem receber esses navios, de 350 mil toneladas. Obrigou a Vale a montar um sistema de transbordo de carga em alto mar. E a recorrer a outros portos asiáticos.
Não estaria nessa situação se a Docenave tivesse continuado sua trajetória.
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