Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
Em março, Adilson Barbosa, do Instituto de Tecnologia da
Universidade Federal do Pará, me enviou a seguinte mensagem:
Ao ler seu livro sobre a hidrelétrica de Tucuruí, tomei conhecimento de
algumas coisas que fugiam ao meu conhecimento. Um exemplo é a Eletronorte.
Saber do fato de a empresa ser a única subsidiária da Eletrobrás cuja sede não
fica na região em que atua, foi muito interessante, tanto quanto saber a
explicação dada quando se reivindicou a vinda da mesma para Belém, um tempo
atrás.
Munido dessas informações, enviei um e-mail à Eletronorte fazendo
algumas indagações.
A resposta do e-mail chegou-me nessa quinta-feira, dia 15.
Vou compartilhar contigo o que me enviaram.
A resposta da Ouvidoria-Geral da Eletrobrás Eletronorte ao
Adilson foi esta:
Sua manifestação foi encaminhada ao Gabinete da Presidência que após
análise, emitiu o seguinte esclarecimento:
“Se faz necessário entender que o local da sede de
uma empresa, como da Eletrobras Eletronorte não é de competência dela, mas sim
da empresa controladora, ou seja, a Eletrobras ou em última instância o Governo
Federal.
Ressalta-se que a legislação atual do setor
elétrico, não determina a área de atuação das empresas. Atualmente, a
Eletrobras Eletronorte não atua exclusivamente na Amazônia, bem como não é a
única empresa do Sistema Eletrobras a atuar na Região Norte. Como é de
conhecimento público, a Eletrobras Eletronorte, hoje, tem empreendimentos nas
regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste e, em se tratando da empresa
controladora (Sistema Eletrobras), Furnas, Chesf e Eletrosul também têm
empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica na Amazônia. Dessa
forma, considerando-se a atual legislação do setor elétrico brasileiro,
entendemos não ser correto denominar a Amazônia como “área de Jurisprudência da
Eletrobras Eletronorte”.
É relevante mencionar também que, sendo uma empresa
relativamente jovem comparada às congêneres, a Eletrobras Eletronorte não é a
maior subsidiária do Sistema Eletrobras, uma vez que Furnas e Chesf têm maiores
volumes de ativos e de faturamento comparado a esta empresa.
Quanto às questões sobre o porquê de não ter havido
a transferência da Eletrobras Eletronorte para Belém, conforme mencionado,
desconhecemos tais tratativas e, se houve elas escaparam do nosso domínio.
Independentemente dessa questão, contudo, deve-se
ressaltar que, sendo originária dos esforços para integrar a Amazônia ao setor
elétrico brasileiro, a Eletronorte sempre buscou realizar seus empreendimentos
e ações em alinhamento com os anseios e necessidades da região e tem o
compromisso de continuar com esta estratégia, mesmo sendo a realidade de hoje
distinta da realidade da época de nossa criação”.
Agradecemos por contatar esta Ouvidoria, bem como, consideramos a
presente manifestação encerrada.
Percebe-se
o mal disfarçado tom de irritação na resposta, além do autoritarismo, que tem
sido uma das marcas da Eletronorte. A resposta sofisma e omite. Sofisma quando
não esclarece que muitos anos se passaram, desde a criação da Eletronorte, em
1979, até que a administração do setor estatal de energia fosse centralizado,
sob o comando da empresa-mãe, a Eletrobrás.
Durante
esse tempo os dirigentes da mais nova das estatais regionais rechaçaram os
pedidos, pressões e protestos pela transferência da sede para Belém, capital do
Estado no qual a Eletronorte extraía 90% da energia que distribuía ao mercado.
Alegar desconhecimento desse histórico é tapar o sol com peneira.
É
verdade que Furnas tem sua sede no Rio de Janeiro, embora sua principal fonte
de energia esteja em Minas Gerais. Mas os dois Estados pertencem à mesma
região, o Sudeste. A Eletronorte, porém, está no distrito federal, no âmbito do
Centro-Oeste. E até a eliminação das barreiras regionais, que acabou com as
antigas jurisdições (questão que merece ser mais bem esclarecida), a posição da
Eletronorte só tinha uma explicação: sua função principal era a de oferecer
energia do Pará ao sistema nacional, tornando o Pará o terceiro maior
exportador de energia bruta do país. Um título que só faz mal ao Estado.
Um comentário:
Fica evidente o trato secular dado a região amazônica. Espólio,butim,saque, como queiram. Nossa relação com o restante do país e com o exterior, anacronismo a parte, ainda é colonial. Antes presos pela força, hoje pelos mecanismos jurídicos e institucionais. Hoje se você tenta contestar ou falar um pouco mais alto lhe mascaram de radical, antes te trancavam no porão de um navio e jogavam cal. Hoje te matam socialmente e o povo alienado acredita. Ainda temos que lhe dar com os arautos dos grandes grupos econômicos que exploram a região e nada deixam em benefício dos locasi. Esses arautos, boa parte deles membros da elite local, pegam as gorjetas e/ou migalhas desse "boom" e nada fazem para mudar a realidade da sua gente, do seu povo.
Obrigado pelo espaço,abraço.
Lauro André.
Postar um comentário