Lúcio Flávio Pinto
A guerra travada entre os grupos de comunicação dos
Maioranas e dos Barbalhos, agora concentrada na batalha em torno da Celpa,
levou o ex-deputado estadual José Carlos Lima a “um problema de princípio
ético, referente ao conflito de interesses do leitor em ter acesso a
notícias com imparcialidade e as vantagens que a utilização da
notícia pode trazer aos proprietários do meio de comunicação”.
Em artigo publicado no jornal eletrônico O Estado doTapajós, ele lembra que os jornais, as revistas e os periódicos, embora não
sejam obrigados a uma licença de funcionamento, “não estão livres de
seguir padrões éticos, até porque utilizam-se de profissionais que estão
sujeitos a um código de ética”.
O jornal O Liberal está sendo acusado de fazer
campanha contra a concessionária estadual de energia simplesmente por não
querer pagar uma dívida de 20 milhões de reais por consumo de energia não
quitado até hoje. A campanha prosseguiria até a empresa aceitar a transformação
do débito em permuta de publicidade nos veículos de comunicação do grupo.
Se a acusação for verdadeira, argumenta o presidente
estadual do Partido Verde, “fica claro que o jornal violou os princípios éticos
previstos no Estatuto da Fenaj”. Mas ele próprio admite que “ai é que mora o
problema”.
“Apurar e punir uma empresa de comunicação ou o jornalista
que produziu a matéria não é um tarefa fácil, sobretudo por não sermos a
favor de censura e defendermos uma imprensa livre de amarras”.
Reconhece que o que O Liberal diz em relação à Celpa
“é verdade e tem respaldo popular. A sociedade não suporta pagar um
serviço público tão caro, de péssima qualidade e ainda mais morando num Estado
produtor de energia”.
O problema não está na veracidade das informações, mas
no seu uso para atender aos interesses do grupo de comunicação, numa atitude
antética. “Se isso for verdadeiro, surge muitas perguntas: Quem poderia
investigar, provar e punir o infrator? A Fenaj? O Ministério Público? Os
leitores? Ou a empresa diretamente atingida?”
Tanto os personagens citados por José Carlos quanto outros,
como o quedo e mudo sindicato dos jornalistas e outros profissionais da
imprensa, ou mesmo simples cidadãos, que se escondem e se omitem quando uma
questão séria como essa se apresenta. Não se vê a repetição da frequente
impetuosidade dos internautas quando o tema se relaciona a poderosos grupos de
comunicação. Não os distantes, mas os locais, ao alcance dessas pessoas, ao
menos de sua indignação e protesto.
O silêncio alimenta a audácia da manipulação da informação
pelos donos dos grupos de comunicação, que usam seu poder em benefício próprio.
Na edição do último domingo, por exemplo, a Celpa publicou um anúncio em O
Liberal e no Diário do Pará explicando didaticamente que cumpre sua
obrigação legal de cobrar o ICMS, o cálculo do imposto é autorizado pela
legislação federal, com amparo constitucional, e que não fica com um tostão do
recolhimento. Repassa todo o tributo para o Estado.
Por ocupar meia página de jornal e ter um texto curto e
direto, o anúncio deve ter sido lido por todos com acesso aos dois jornais. Foi
completamente ignorado, no entanto, por O Liberal no seu noticiário a
respeito, como se as informações inexistissem. O jornal dos Maioranas continua
a dizer o contrário sem desfazer as afirmativas da Celpa. Martelará, assim, até
ser perdoado da imensa dívida.
Que jornalismo é esse?
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