Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e Articulista de O Estado do Tapajos
Numa de suas músicas mais cativantes, Chico Buarque de Holanda fala de uma personagem tão cheia de vitalidade que “quem não a conhece/ não pode mais ver pra crer,/ quem jamais a esquece/ não pode reconhecer”. O modelo cabia à perfeição em Iza do Amaral Corrêa Ayres, que se foi na semana passada. Ela foi o esteio de sua família e a companheira em tempo integral do marido, o médico Manuel Ayres. Serviu de inspiração e motivação para a carreira dos filhos, dentre os quais a mais destacada foi a de José Márcio Ayres, criador de uma experiência pioneira e modelar de adequação de uma unidade de conservação ambiental à vida dos seus habitantes tradicionais, numa interação proveitosa para as partes, o Mamirauá, no Amazonas.
Dona Iza tornava-se a mãe ou a amiga das pessoas que conhecia, mal as conhecia, conforme suas idades, tal sua dedicação e entrega. Nunca a vi triste ou desanimada: sempre parecia alegre, enérgica, otimista, mesmo quando enfrentou a doença insidiosa e cruel que antecipou seus dias. Ela sustentou nossa última conversa, já no hospital, com a intensidade daquelas pessoas que esperam viver ainda muito tempo – e viver por completo.
Se ela não fez isso, foi porque, pela primeira vez, sua decidida opção pela vida escapou ao controle da sua vontade. Mas só se deixou vencer quando não havia como travar mais um combate. Foi-se como a grande companheira e mãe de todos nós, que sempre foi enquanto pôde comandar os seus atos. Deu-se, por fim, o descanso dessa autêntica guerreira, a do bom combate.
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