Do Espaço aberto:
Morreu há pouco no Hospital Porto Dias, em Belém, aos 84 anos de idade, o escritor Benedicto Monteiro[ que era um dos articulistas de O Estado do Tapajós].
Nos últimos dias, o estado de saúde de Bené, que também era advogado e poeta, agravou-se muito desde que, em 22 de agosto, precisou ser hospitalizado com fortes dores abdominais, após submeter-se a uma colostomia, que consiste em desviar o trânsito intestinal para a parede do abdômen. Ele foi a UTI, saiu, piorou e voltou para a UTI onde faleceu.
O corpo do escritor deverá ser velado na Academia Paraense de Letras, na Rua João Diogo. Além de integrante da APL, Bené Monteiro também era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e da Academia Paraense de Jornalismo.
O sepultamento, segundo a família, está marcado para esta segunda-feira, mas até agora ainda não há horário e local definidos.
O site oficial de Benedito, o Verdevagomundo, apresenta a seguinte biografia do escritor:
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Benedicto Monteiro nasceu no dia 1°. de março de 1924, em Alenquer, região oeste do Pará. Éra filho de Ludgero Burlamaqui Monteiro e Heribertina Batista Monteiro. Fez o curso de Humanidades no Colégio Marista N.S. de Nazaré em Belém e completou os seus estudos de ginásio no Rio de Janeiro, onde cursou Direito na Universidade do Brasil. Ainda no Rio, exerceu o jornalismo na imprensa local e publicou o seu primeiro livro de poesia Bandeira Branca, pela editora Zélio Valverde (1945) prefaciado pelo escritor Dalcídio Jurandir.Casado com Wanda Marques Monteiro, teve cinco filhos: Aldanery, Ana Luiza, Wanda Benedita, Benedicto Filho e Dulcinez. Os filhos lhe deram dez netos: Bonny, Tahiana,Carlos Tadeu, Carla, Marcelo, André, Aline, Diego, Cauê, Iago e duas bisnetas: Luara e Luma.
Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, exerceu os cargos de Promotor Público, Juiz de Direito e Secretário de Estado. Foi eleito Deputado Estadual, tendo sido cassado em 1964, pelo regime militar instalado. Caçado como animal, nas matas de Alenquer, ficou preso e incomunicável por vários meses e foi torturado e marginalizado da sociedade, tendo seus direitos políticos suspensos por mais de 10 anos. Depois que saiu da prisão, dedicou-se ao exercício da advocacia agrarista e à literatura, tendo publicado o livro Direito Agrário e Processo Fundiário e vários livros de poesia e ficção que constam de seus dados bibliográficos.
O seu livro de contos Carro dos Milagres, foi premiado pela Academia Paraense de Letras, e o romance A Terceira Margem, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura da Fundação Cultural do Distrito Federal.Benedicto Monteiro, além de se destacar por sua atuação como Advogado Agrarista e como Parlamentar em defesa da Amazônia, também exerceu o magistério, como Professor convidado, ministrou palestras em Seminários e Cursos de Extensão Universitária e aulas de Direito Agrário em Instituições de Ensino de Nivel Superior, ainda encontrava tempo para compor músicas com temas amazônicos que apresentam rítmos que fazem parte da cultura do Pará, como o lundum, o marambiré e a toada.
Redemocratizado o país, foi eleito Deputado Federal e foi reeleito para a Assembléia Nacional Constituinte. Criou a Procuradoria Geral do Estado do Pará e foi o seu primeiro Procurador Geral. Criou e organizou a Denfensoria Pública do Estado do Pará.
A obra do escritor Benedicto Monteiro é reconhecida e prestigiada não só no Brasil, mas, sobretudo no Exterior.Na Europa, em países como Portugal, Holanda, Itália e Alemanha ( Berlim e Colonia), onde suas obras são traduzidas e servem como objeto de teses de mestrado e doutorado, e de monografias e estudos acadêmicos.
Especialmente na Alemanha, onde em tese de doutorado defendida pelo Professor Klaus Meyer Koeken, intitulada "Die Illusion Von oraitãt im brasilianischen Roman": "Zur Simulation realer Sprechsituationen in drei ‘mündich erzählten Lebensgeschichten ", com resumo em português: "A ilusão da oralidade no romance brasileiro", destaca e considera o romancista brasileiro Benedicto Monteiro como um dos representantes da literatura brasileira neste estilo de narrativa, colocando-o ao lado dos renomados escritores França Junior e Guimarães Rosa.
Nos Estados Unidos da América, sua obra literária é objeto de estudo acadêmico de autoria do Professor Macolm Silverman da San Diego State University – Califórnia, que em sua obra traduzida para o português intitulada "Protesto e o novo romance brasileiro", dá destaque à obra do escritor Benedicto Monteiro e comenta: "...Ao iluminar a noite simbolicamente, Benedicto Monteiro termina Verde Vagomundo com uma nota de esperança e resistência, cujo otimismo era, ironicamente, difundido logo após o golpe militar, embora já houvesse terminado ao tempo da publicação do romance...".
Este estudo, com tradução de Carlos Araújo, foi publicada no Brasil pela Editora Civilização Brasileira, no Rio de Janeiro, no ano de 2000 e é considerado o melhor "Melhor Livro de Ensaios"- Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.Seu livro de Contos O Carro dos Milagres foi, durante vários anos consecutivos, recomendado como leitura obrigatória para o Vestibular, com textos selecionados para interpretaçao, pela Universidade Federal do Pará e por outras entidades privadas de ensino superior. E ainda, serviu de roteiro para peças de teatro e filmes de curta metragem.
O escritor Benedicto Monteiro recorrendo a sua vasta experiência literária, contextualizou a história do Pará, com todas as suas nuances e dimensões, resgatando, de forma didática, os valores da rica cultura paraense, lançando em parceria com as Organizações Rômulo Maiorama- ORM, a obra História do Pará, distribuída em fascículos encartados pelo jornal "O Liberal" no ano de 2001. Esta obra representa a síntese da história paraense, desde os fundamentos da pré-história amazônica à sua contemporaneidade, sob o ponto de vista econômico, geográfico, social, político e ecológico.
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