Gerson Nogueira
Na condição de chefe da delegação brasileira na Copa das Confederações, o coronel Antonio Carlos Nunes de Lima, presidente da Federação Paraense de Futebol, rompeu o mutismo que caracteriza ocupantes da honraria e corre o risco de carimbar sua passagem pela África do Sul com a mancha da incontinência verbal.
Logo de cara, na chegada da Seleção à cidade de Bloomfontein, cometeu discurso marcado pelo preconceito e a desinformação. Como se estivesse num convescote qualquer bancado pelas ligas interioranas do Pará, que lhe são inteiramente submissas, o coronel não conteve a língua.
Com a má educação que não é própria dos paraenses e com o mau jeito que as normas diplomáticas desaconselham, Nunes sublinhou que a cidade sul-africana era uma espécie de elo perdido no fim do mundo. Como se fora um globe-trotter, analisou que Bloomfontein iria ficar mundialmente conhecida em função da presença do selecionado brasileiro.
Não que isso seja uma inverdade, mas é óbvio que na vida há momento para tudo. Ali, na recepção organizada por Bloomfontein, não era a ocasião apropriada para enaltecer a fama e o valor do time brasileiro. Nunes não precisava usar sua opinião para constranger ninguém – principalmente o prefeito da cidade anfitriã. Os maus modos do chefe da comitiva foram registrados pelos organizadores do torneio e até por dirigentes da Fifa.
Além de quase instaurar um incidente diplomático, o tropeção verbal do cartola paraense cria, ainda, uma saia justa para a CBF, que se prepara para organizar uma Copa do Mundo daqui a cinco anos – e certamente não gostaria de receber o mesmo tratamento por parte de um dirigente visitante.
Não satisfeito, o boquirroto miliciano partiu para novos ataques. Desta feita, denunciando o clima de insegurança em Johannesburgo. Ao visitar Soweto, berço da resistência contra o apartheid, reclamou – ora veja só – da falta de um lugar para festejar as vitórias. Em outras palavras, sentiu falta de uma bodega qualquer de rua, como se isso fosse item de primeira necessidade numa cidade que abriga torneio internacional.
O surpreendente despreparo na articulação das palavras não faz justiça ao cartola habilidoso e matreiro que Nunes sempre foi, conseguindo por isso mesmo manter-se no comando do futebol regional por mais de duas décadas. E sua loquacidade não honra o convite de seu amigo Ricardo Teixeira para chefiar a delegação, como prêmio de consolação pela exclusão de Belém da lista de sub-sedes da Copa de 2014.
Pode-se concluir depois dos últimos incidentes que o coronel foi duplamente infeliz. Primeiro, ao aceitar honraria tão questionável; e, em aceitando, não ter a capacidade de manter a matraca fechada. Juca Kfouri, em sua prestigiada coluna, aconselha Teixeira a mandar Nunes de volta para casa. Paraenses de boa cepa entendem que ele nem devia ter ido.
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