quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Enfermeira nota mil

Márcia Turcato

Esta história não tem cartas. Nem adianta procurar. Cacilda Rosa Bertoni, enfermeira e administradora hospitalar, 90 anos, diz que não encontrou nenhuma. Mas esta é uma grande saga e vamos contá-la. É a memória viva do serviço de saúde pública em Brasília.

Cacilda chegou em Brasília em 1958. Melhor, chegou no Núcleo Bandeirante, Brasília não existia, era apenas um canteiro de obras. Morou até 1960 em uma casa de madeira na Segunda Avenida, número 1.105, onde hoje é o Colégio La Salle. Em sua carteira do trabalho, sob o registro número 078, está o seu contrato como funcionária da Fundação Hospitalar do Distrito Federal, assinada em 16 de maio de 1960.

A história da enfermeira Cacilda é uma saga. Sua história não começa com a chegada em Brasília. Antes ela percorreu a Amazônia. Era a década de 1940. E bem antes disto ela ficou órfã de pai e mãe e foi acolhida pela Igreja Metodista. O roteiro de Cacilda inicia em Piracicaba e segue para Ribeirão Preto (SP). De lá ela viaja para o Rio de Janeiro com o objetivo de estudar na Escola de Enfermagem Anna Nery, criada em 1923, e ser missionária. Diplomada em 20 de maio de 1946, embarca para Belém (PA) no dia primeiro de junho para trabalhar no Hospital de Doenças Tropicais Evandro Chagas. Ficou dois anos e seguiu para Breves, na ilha de Marajó, onde os doentes precisavam muito mais dela dos que os enfermos da capital do estado. Na ilha permaneceu por mais dois anos.

“Era a época do esforço de guerra”, recorda Cacilda. Os Estados Unidos precisavam de borracha e para ter a matéria-prima os seringueiros necessitavam de atenção à saúde. E lá estava a enfermeira. De Breves, seguiu para Santarém, também no Pará, para organizar um novo hospital. Feito o serviço, aceitou uma bolsa para estudar Administração Hospitalar em Maryland, Baltimore (EUA).

No retorno ao Brasil casou com um representante da indústria farmacêutica, Afonso Bertoni, tiveram três filhos. Foi do marido a idéia de vir para Brasília, mas ela veio na frente, no final de 1957. Cacilda recorda que no Núcleo, nessa data, já havia uma Igreja Metodista, coordenada pelo pastor Antônio Margarido Mendes.

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