segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vicente Salles: 80 anos de fé


Lúcio Flávio Pinto

Vicente Salles fará 80 anos em novembro. Já possui o título de doutor honoris causa pela Universidade da Amazônia, a Unama, concedido em 2002. Não sei por que a Universidade Federal do Pará não partilhou essa merecida honraria. A oportunidade para redimir o erro se apresentará em novembro, quando é de se prever que os paraenses comemorarão a data para agradecer a tanta coisa boa produzida em nosso favor por esse historiador, folclorista, musicista e humanista.

Incansável, apesar das doenças, e sempre curioso e atrás de novidades, Vicente esteve em Belém para falar sobre “As raízes da cultura mestiça na Amazônia, durante o VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte e II Reunião do Fórum Landi. Antes dele, Victor Sales Pinheiro leu um emocionante (e emocionado) testemunho sobre Benedito Nunes. O filósofo, crítico, professor e ensaísta, falecido recentemente, também recebeu o título honorífico da Unama. Mas também o da UFPA, que, por todos os títulos justo, falta a Vicente. O detalhe é que, sendo verdadeiramente sábios, Benedito e Vicente cresceram como autodidatas e sua formação acadêmica se limitou à graduação, um anticlímax ao fervor dos currículos Lattes. Uma afirmação do saber livre.

Durante sua palestra, Vicente fez mais uma generosa referência a este jornal, que muito me emocionou. Reproduzo o trecho que me diz respeito não por vaidade, mas em reconhecimento ao gesto de coragem do velho e admirado amigo. Vicente fez questão de enxertar a referência na sua palestra para dizer o que pensa a respeito de um personagem anatematizado pelas elites poderosas da terra. Uma forma de também estimular os que se oferecem à sociedade para seus defensores. E, por fim,dizer que não está preocupado com esses Torquemadas. Seu lugar na história está de há muito garantido, com ou sem títulos em papel.

Segue-se o texto de Vicente Salles, a partir do paralelo que ele traçou entre as obras dos milionários americanos Henry Ford, no Tapajós, e Daniel Ludwig, no Jari.

Tal como Ford, Daniel Ludwig devastou grande parte da floresta nativa para um projeto de plantio de espécie uniforme, com inevitáveis alterações no ecossistema. O projeto contou mais uma vez com generosa ajuda oficial no tempo da ditadura militar. Quando Ludwig se convenceu do insucesso da empreitada, saiu da Amazônia, deixando o resultado de ações empresariais analisadas pelo espírito investigativo do jornalista Lúcio Flávio Pinto, que acompanhou o empreendimento em todas as suas fases. A bibliografia desse jornalista-escritor contém o grito de alerta que poucos têm ouvidos para ouvir. Um dos textos mais vigorosos – Amazônia, a fronteira do caos, data de 1991. Sua primeira palestra sobre a Amazônia data de 1970. Exatamente 40 anos de lutas e de enfrentamento com os poderosos.

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