Lúcio Flávio Pinto
Quando visitavam o palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, em 1950, Dalila Ohana prometeu ao seu companheiro, o general Magalhães Barata, que criaria um museu para perpetuar sua memória na história paraense. Só concretizou esse compromisso 12 anos depois, quando o presidente do Instituto Histórico e Geográfico, coronel Josué Freire, cedeu-lhe uma das salas na sede do chamado sodalício (até hoje em processo de restauração).
As peças do museu, inaugurado em 1962, três anos depois da morte de Barata, eram apenas “móveis modestos”, que estavam em sua casa durante seus dois últimos mandatos como governador, de 1943 a 1946 e de 1956 até sua morte, no exercício do cargo, em 1959. Dalila estava consciente de que essas peças podiam ser adquiridas “por qualquer família da classe média”, mas tinham para ela um valor sentimental muito grande, fazendo-a recordar cenas “pitorescas ou tristonhas”.
Mas por que só esses poucos móveis? Porque foi o que lhe restou depois que ela foi obrigada a abandonar a casa na qual vivia com o companheiro. “Nem mesmo os calçados, gravatas, suspensórios foram poupados no saque praticado em minha casa, residência privada do ex-governador, por pessoas inescrupulosas, que aqui vieram apenas com esse objetivo”. E mais não disse porque tudo dissera no livro que lançara pouco tempo antes.
Barata (2)
No discurso que pronunciou durante a solenidade, a segunda mulher de Barata reclamou da falta de apoio dos seus amigos e de outros “baratistas”, incluindo o então governador Aurélio do Carmo, a quem tinha ofertado a espada do militar: “nem assim consegui interessá-lo”, confessou. Dalila criticou o “desamparo criminoso de quem tinha mais do que dever – obrigação – de zelar pelos pertences do gen. Barata: o Sr. Moura Carvalho”.
Lembrou-se da advertência que seu companheiro lhe fizera: “Quando eu morrer, ninguém mais se lembrará de mim, e muitos darão até graças a Deus pelo meu desaparecimento”, previu Barata. Sem razão. Ou sem toda a razão. Dalila Ohana ainda pôde agradecer a quatro pessoas que contribuíram para o surgimento do museu: Adriano Pimentel, Camilo Porto de Oliveira, Carlos Freire e Josué Freire.
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