Lúcio Flávio Pinto
Resolvi
destacar o comentário de Cléber Miranda, que segue abaixo, não por ele
concordar comigo. É porque oferece mais uma oportunidade para eu me
manifestar sobre o tema. Escrevo não para os que me acompanham há mais
tempo, já suficientemente informados sobre a ladainha. É para os
leitores recentes, às vezes sujeitos a manipulações hábeis e sórdidas,
como continuam a fazer do tema.
Fui
amigo de Jader Barbalho e uma das pessoas que acreditaram nele quando
se candidatou a vereador de Belém e se elegeu, meio século atrás,
iniciando a mais brilhante carreira de um político que se formou na
oposição ao regime militar. Foi deputado estadual, deputado federal,
duas vezes senador, duas governador e duas ministro.
Fui
o único dos integrantes do que hoje pode-se chamar de "a turma do CEPC"
que não subiu ao poder com ele. Bem que me convidou, em 1982, mas eu
recusei todos os cargos que me ofereceu. Disse-lhe que continuaria a ser
o que sempre fui: jornalista. E que continuaria também a ser crítico e
fazer oposição, se necessário.
E
foi necessário, a partir do escândalo (que revelei e sustentei), de
1984, sobre a desapropriação da gleba Conceição do Aurá, em Ananindeua,
supostamente para a implantação de um conjunto residencial popular, mas,
na verdade, um acerto de contas da campanha eleitoral.
Num
momento em que a esquerda em particular e o público em geral ainda
estavam encantados pela retórica e o carisma de Jader, eu já estava
criticando-o. De tal forma que cheguei a ser ameaçado de morte, fui
hostilizado e rompi com O Liberal e Romulo Maiorana por não aceitar ser censurado pelas críticas que fazia ao governador.
Minhas
matérias foram usadas amplamente pela oposição a ele, em especial o PT,
e em livros encomendados por seus inimigos, sobretudo Antônio Carlos
Magalhães, que denunciavam seu enriquecimento rápido por desvio de
dinheiro do erário, como o de Gualter Loyola (que se baseou quase
exclusivamente nos meus textos e no material que ACM, em guerra com
Jader no Senado, lhe entregou.
Como
ressaltou o Cléber (e sou-lhe grato por isso), sempre usei os fatos
para fazer a crítica, com provas documentais, em especial as oficiais.
Jamais fui desmentido no essencial. Meus erros sempre foram veniais (e
publicamente reconhecidos), em grande medida pelas circunstâncias -
agravadas pela perseguição judicial, iniciada em larga escala em 1992 -
do meu trabalho, hoje tendo por base um micro-jornal, o JP, e nenhum
capital.
Nunca
aceitei o dualismo: Jader/corrupção, os demais/honradez. Por ser
explícita sua promiscuidade com o tesouro, Jader passou a ser usado como
o Judas do enriquecimento ilícito, o boi de piranha para a passagem de
manadas de ladrões, espertos e oportunistas que se propagam sem precisar
de aedes aegypts.
Mirando
nele, que nunca se defendeu, até ajuizar recentemente uma ação na
justiça contra Ronaldo Brasiliense, buscam manter o povo fixado apenas
nele, que serve de biombo e habeas corpus para outros políticos quase
tão - ou mais - nocivos do que ele.
Talvez
não mais porque realmente Jader se tornou o mais brilhante político
paraense pós-64, o único com importância nacional depois de Jarbas
Passarinho, o principal quadro do regime militar no Pará.
Daí
o senador peemedebista ter se tornado um gênio do mal, o doutor
Silvana, inimigo do Capitão Marvel dos quadrinhos, se não me falha a
memória dos tempos de leitor de gibi. Mas não é o diabo, o único capeta
dos infernos. Infelizmente, o que não falta neste maltratado Pará são
capetas do mesmo jazes, ou até de pior extração.
Jader
podia ter mudado o Pará para melhor. Foi o único político pós-64 com
essa possibilidade. O melhor acabou sendo para ele, sua familia e o seu
grupo, não para o Estado. Nem por isso só ele deve pagar a conta
negativa das péssimas elites que temos, como querem alguns personagens
diabólicos, se fantasiando de querubins e se infiltrando em espaços como
este.
Segue-se o comentário de Cléber
O
Lúcio não me tem como dos seus leitores mais simpáticos, e eu também
tenho sérias restrições quanto ao posicionamento político dele, mas
entendo que, nesse caso, ele tem razão e não está sendo parcial, pró
-Jader . Lúcio sabe não é bobo, e todos nós sabemos que o senador
paraense, desde que, há trinta anos atrás, assumiu o Ministério da
Reforma Agrária, tem se envolvido em inúmeras mutretas, falcatruas e
irregularidades.
Mas
o Lúcio foi bem claro:no âmbito da Lava-Jato, sua participação tem que
ser demonstrada de uma maneira mais evidente; ademais, Lúcio fez menção
às evidentes ligações “barbalhistas” ao setor elétrico, e suas possíveis
conexões com o PAC através de Belo Monte, com os parceiros Sarney e
Silas Roundeau, não descartando, por completo, a possibilidade de
envolvimento do senador.
Então,
penso que o jornalista analisou prudentemente, sem precipitação, como
deve ser. Não gosto nem um pouco do senador paraense, e acho-o, como bem
frisou o Lúcio há alguns anos atrás, no Jornal Pessoal, o mais
nocivo político daqui; mas não posso condená-lo antecipadamente, num
julgamento tendencioso, pois depois posso me contradizer, requerendo
ampla defesa e direito ao contraditório aos do meu lado, quando neguei
essas prerrogativas aos desafetos. Como dizem por aí:”Muita calma nessa
hora”.
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