A
denúncia junto com a cautelar, pedindo a prisão do ex-presidente Lula,
apresentada no dia 9 por três promotores de justiça de São Paulo,
poderia ser um excelente artigo de imprensa ou um manifesto à ação.
Nunca uma peça jurídica. Falta-lhe rigor técnico. Não só na
fundamentação como no apuro técnico, que inexistiu. Se aceita, vai
engendrar um processo político. E isso é ruim para todos.
Parece
que os três integrantes do Ministério Público do Estado, Cássio
Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique, quiseram aproveitar os
últimos acontecimentos, a partir do depoimento forçado de Lula pelo
Ministério Público Federal do Paraná.
Esquentaram
sua peça, que já vinha sendo preparada, investindo no clima emocional
carregado que se formou a partir da imagem inédita: um ex-presidente da
república sendo conduzido pela Polícia federal para depor numa
instalação ad-hoc do MP federal.
Foi
uma inspiração mais do que temerária: o paroxismo em torno da situação
inusitada podia favorecer a peça dos promotores e reforçar a
manifestação de protesto de amanhã dos que se opõem ao PT, mas também
podia ter efeito reverso: consolidar a imagem de vítima do
ex-presidente, que nesse recurso tem uma das suas últimas esperanças de
escapar ao destino que parece estar traçado em Curitiba: seu
indiciamento como réu na Operação Lava-Jato.
Lá
o ritmo e o método são outros. As iniciativas da PF, do MPF e do juiz
Sergio Moro provocam polêmicas. Invariavelmente, porém, elas se mostram
solidamente fundamentadas. Se fosse para usar os argumentos apresentados
na denúncia do MP paulista, os paranaenses teriam saído bem na frente.
Percebe-se, no entanto, que ainda lhes falta a conexão das acusações com
as provas dos fatos relatados, sobretudo nas delações premiadas.
Essa
foi a razão de tantas diligências de busca e apreensão de documentos na
24ª operação da Lava-Jato. Os investigadores buscam arrematar as peças
de acusação com aquelas provas que os advogados gostam de definir como
robustas, em condições de resistir a questionamentos da parte adversa.
O
contraste entre os métodos dos promotores de São Paulo e do Paraná
evidencia que se Lula pode se livrar com facilidade dos primeiros, dos
segundos é pouco provável que consiga escapar.
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