Lúcio Flávio Pinto:
Com a edição que colocou agora nas ruas, Veja
renunciou à sua condição de revista semanal de informações (a quarta ou
quinta mais importante do mundo) e se transformou em publicação de
humor, do mais negro e involuntário humor, se me permitem os
politicamente corretos. Uma revista de deboche, de sarcasmo e ironia
grosseira.
A
capa traz a foto retocada de Lula, transformado em medusa, numa
cascavel. Competente na criação de fraseologias de forte apelo popular,
ele foi infeliz ao se comparar a uma jararaca. Pensou no uso da imagem
como referência à força e capacidade de resistência do animal, uma
serpente perigosa, mas útil
Acabou
oferecendo um prato cheio à ironia e a interpretações opostas à sua
intenção. A revista não apenas tratou de apresentar a relação do
serpentário de Lula como manifestou, da forma mais explícita e extremada
possível, seu projeto de acabar com o ex-presidente da república. De
pisar na sua cabeça e não na cauda, para que, desta vez, não escape,
como conseguiu no episódio do mensalão.
Nesse
ponto, imitou os três promotores de justiça do Estado de São Paulo, que
se precipitaram numa denúncia voluntarista. A peça mais cabia como
artigo na imprensa. A técnica da petição jurídica foi deixada de lado e
seu anexo era uma indevida cautelar pedindo a prisão antecipada de Lula.
Ficou nítida a busca de estrelismo e o caráter subjetivo da iniciativa.
Veja
foi além: renunciou ao jornalismo e voltou atrás, à época dos panfletos
da imprensa incendiária de décadas ou séculos atrás, quando os fatos e a
verdade importavam menos do que o tom rascante da acusação. Quanto mais
ruidosa, maior efeito podia provocar.
É
uma pena que a revista tenha decidido assim. Como leitor, jornalista e
um dos profissionais que trabalhou na revista no seu início, fiquei
chocado e triste pelo que uma publicação com o currículo de Veja
cometeu. Mais do que o epitáfio antecipado de Lula, uma antecipação do
destino ao qual a revista estará condenada se prosseguir nessa direção.
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