Se vivo estivesse,
Osmar Simões, meu amigo, meu mestre, completaria hoje 94 anos. Em
25/04/2008, sua viúva, Dona Laura, escreveu o artigo abaixo, que foi
publicado na mesma data no jornal O Liberal:
No dia 25 de abril de 1918 nascia em
Santarém do Pará Osmar Loureiro Simões, o inesquecível Radialista
santareno. Seus pais portugueses se radicaram em Santarém, no princípio
do Século XX: Antônio Simões Torres d’Albuquerque e Felisbina Loureiro
Simões. Ele, empreendedor nato, industrial e comerciante; ela, da
nobreza portuguesa, tinha o brasão Loureiro em suas propriedades.
Voltaram a Portugal para batizar o filho Osmar em Vianna do Castelo.
Osmar
teve um irmão e uma irmã. O irmão Antônio, chamado Simõeszinho, teve o
nome perpetuado na Avenida Antônio Simões, como reconhecimento pelos
serviços prestados a Santarém. Sua irmã, professora Maria Hermínia, foi
inesquecível mestra de duas gerações. Estudou interno no Colégio São
Jerônimo da professora Clotilde Peixoto Pereira e concluiu o Pré-Médico
no Ginásio Paes de Carvalho.
Ingressou na radiofonia paraense, na
PRC-5, Rádio Clube do Pará, onde foi locutor, apresentador de programas
de auditório, rádio-ator no auge das novelas e comentarista esportivo,
bela voz e grande versatilidade.
Durante a II Guerra Mundial,
serviu no 34º BC e recebeu a espada de Oficial da Reserva do Exército
(CPOR). Em janeiro de 1954, casado com Laura da Cunha Simões e com três
filhos, voltou para Santarém, a fim de assumir a gerência da Caixa
Econômica Federal, onde desempenhou atividades importantes até
aposentar-se.
Naquele tempo, Santarém sofria os atrasos de cidade
do interior. A Rádio Clube de Santarém fora do ar em razão da morte de
seu fundador Jonathas Almeida e Silva. Com sua preciosa experiência
radiofônica, aceitou o desafio e conseguiu ajuda do amigo Adalberto
Gentil e outros abnegados que colocaram a estação no ar, para deleite
dos santarenos.
Era um entusiasta dos esportes, a ponto de
custear a instalação da luz elétrica no Estádio de Futebol dos
Franciscanos, proporcionando jogos noturnos, para satisfação dos
aficionados do Futebol. Era azulino: seus clubes prediletos eram o São
Francisco, em Santarém, e o Clube do Remo, em Belém. Foi sócio
permanente do Asilo São Vicente de Paula, do Clube Recreativo e sócio
fundador do Lions Club de Santarém.
Osmar possuía senso de
justiça e coração magnânimo, revelando-se em episódios marcantes, como a
solidariedade eficaz aos imigrantes nordestinos, que chegaram a
Santarém, na década de 50, expulsos por implacável seca. Centenas vieram
e se alojaram logo embaixo do trapiche municipal. Desespero, fome,
miséria e alguma esperança, era o clima reinante entre eles. Chocado,
tomou a iniciativa de sair às ruas pedindo o auxílio da população para
os irmãos flagelados. Clamava pelo alto-falante e as ofertas iam
surgindo: lençóis, redes, alimentos e roupas amenizaram a situação. Quem
muito lucrou com a permanência dos emigrantes nordestinos foi Santarém,
eis que pagaram com o trabalho honesto a acolhida fraterna que
receberam.
Quando houve o roubo da imagem da Padroeira Nossa
Senhora da Salvação, na comunidade de São Luiz do Guajará, Osmar,
solidário, providenciou junto a talentoso artista sacro o entalhe de
peça idêntica à primitiva, que lá chegou em caravana fluvial, sendo
recebida com fogos e alegria pelos moradores devotos.
Osmar tinha
arma poderosa a seu favor: o microfone! Com ele usava seu talento e
destemor a serviço da comunidade. Seu programa de maior audiência era 'A
Tribuna Popular', também o 'O Assunto é Este' e neles requisitava das
autoridades serviços urgentes de segurança, limpeza de ruas, iluminação
pública etc., tudo o que beneficiasse e tranqüilizasse a população.
Era
homem de fé, amigo dos padres, do bispo, das religiosas, aos quais
emprestava seus dons de radialista, gratuitamente, na divulgação das
obras e efemérides da Igreja. Fez vários programas e recitais no Cristo
Rei, no Centro Recreativo, no Cinema Olympia, apresentou o I Festival de
Canções Santarenas, sempre lembrado pelo seu talento versátil, seu
porte elegante e fluência verbal privilegiada.
Foi um dos
fundadores da Rádio Rural de Santarém. Acompanhou a obra desde os
alicerces até a inauguração, sendo diretor artístico, por muitos anos.
Dirigia o departamento esportivo da Rádio Rural e seu programa de
esportes era escuta obrigatória.
Alternava seus comentários com
os de seus jovens pupilos, formando, com sua didática e exemplo, uma
equipe de talentos fantásticos na qual despontaram Ercio Bemerguy,
Guarany Júnior, Herbert Tadeu Mattos, Santino Soares, Cláudio Serique,
Oti Santos e muitos outros.
Vibrava com tudo o que significasse
progresso para Santarém. Visitava a construção da Hidrelétrica de
Curuá-Una e as obras da abertura da Rodovia Santarém-Cuiabá. Fotos de
mateiros, picadas abertas na selva, operários e tratores, tudo
divulgado. Vinha esperançoso e, muitas vezes, doente.
Osmar
Simões, o ardoroso mocorongo, faleceu no dia 4 de julho de 1986, uma
sexta-feira. Morte súbita, dolorosa para seus familiares, amigos e para a
comunidade mocoronga que lamentou essa perda pelo reconhecido valor que
sua vida representava na Cultura e na Radiofonia da Pérola do Tapajós.
Paz a sua alma! Nosso silêncio, nossa saudade!