Francisco Rocha Junior:
Para quem acompanha o Flanar, é um caso emblemático a discussão que travei, durante algumas postagens, sobre a concessão ou não de asilo político ao italiano Cesare Battisti com nosso confrade Itajaí de Albuquerque.
Portanto, não há que causar espanto eventual discordância entre os autores do blog, que, também repito, são maiores, vacinados e, por isso, respondem plenamente por suas opiniões.
Dito isto, ressalvo meu entendimento sobre o texto a respeito do qual um anônimo, na caixa de comentários do post As Fúrias Tropicais, pediu a opinião do Itajaí. Tratava-se de um trecho do artigo “Lula, o Bom Ditador”, que o jornalista Lúcio Flávio Pinto publicou em seu Jornal Pessoal da 2ª quinzena de agosto último, e que foi republicado no site do O Estado do Tapajós, do também jornalista santareno Miguel Oliveira. A seguir, a parte transcrita pelo anônimo:
Lula é aquilo que, abusando do jargão, se passou a chamar de “força da natureza”. É uma esplêndida culminação de instintos vitais. Mas sem a menor condição de autoconhecimento, de reflexão e de análise. Sua maior malignidade está em se infiltrar sem ser percebido. E, mesmo sendo impossível, passar a ser aceito como normal.
Tomado fora do contexto, a redação causou no poster do Flanar indignação, que ele expressou na postagem Um Curioso Exemplo de Higienismo na Política Brasileira. Aqui, para mim, está o primeiro motivo de discordância com meu companheiro de blog: não se pode tomar um texto por parte dele. Não se pode criticá-lo a partir de mera análise descontextualizada, sob risco de incorrer no mesmo equívoco dos cegos da fábula, que tomaram um elefante por tudo aquilo que ele não era.
Mas assim fez meu caríssimo Itajaí. E por isso desconsiderou a análise – para mim, perfeita – que LFP fez a respeito do alcance que esta quase unanimidade do presidente Lula traz para a crítica política brasileira. O artigo espelha o que penso a respeito do tema, focando a absoluta indigência de posicionamento, de crítica e até mesmo de marketing que a oposição brasileira tem revelado nestas eleições.
É preciso, é necessário, é imprescindível para a democracia que haja o contraponto. Lula e o Partido dos Trabalhadores não são a nona maravilha do mundo moderno. Dentre outras coisas, Lula foi incapaz de romper com o modus operandi político das elites brasileiras: teve que se vergar a elas, atraindo para seu lado, em nome da quase maldita governabilidade, gente da estirpe de Jader Barbalho, José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor. Traiu, na verdade, a esperança de milhões que queriam mudanças no modo de fazer política quando, sob a luz inevitável dos holofotes, mostrou que o PT trata a máquina administrativa exatamente como PFL, PMDB, PTB e até o próprio PSDB o fazem: para multiplicar e manter o poder.
Claro que o governo Lula tem seus méritos. Um deles, atacar aquilo que os governos sociais-democratas não conseguiram (ou não quiseram): aplacar a fome da população. Mas esta não pode ser uma justificativa suficiente para que se esqueçam os inúmeros erros, por inconsequência, omissão ou deliberação, que o governo petista cometeu. Aí deveria estar a oposição para, se responsável fosse (ou se tivesse moral), levantar o debate.
Por tudo isso, a figura do bom ditador é paradigmática. Mas se a oposição deve ser contraponto, a situação também deveria por a mão na consciência e, se fizer a crítica interna das ações e omissões do governo, expô-la ao respeitável público. Afinal, se o PT foi o maior algoz de Rubens Ricúpero no hoje já histórico “escândalo da parabólica”, parece não ter querido aprender a lição pela experiência dos outros.