Lúcio Flávio Pinto
Belém- Não
foi apenas um princípio de incêndio, como a imprensa noticiou. Houve incêndio
mesmo no Shopping Doca Boulevard, no dia 7. O fogo foi logo apagado pelos
bombeiros, que chegaram rapidamente ao local. Mas a fumaça saiu do controle dos
mecanismos existentes no prédio e se espalhou. Sem a evacuação, podia ter
acontecido uma repetição — ainda que sem a mesma gravidade — do que sucedeu na
boate Kiss, no Rio Grande do Sul. As pessoas poderiam ser atingidas pela fumaça
tóxica.
Quatro
incêndios em três anos recomendam atenção e cuidados sobre esse shopping. Ele
parece vulnerável aos acidentes. Pode ser até que venha a melhorar os sistemas
de segurança interna, mas continuará a ser uma peça anômala no conjunto urbano
em que se localiza.
Não
era para esse estabelecimento comercial funcionar onde se encontra. Se fosse
aprovado, jamais poderia ter a configuração que possui. Ele agride regras
básicas de convivência com o ambiente em torno. O prédio foi levantado sem
recuos. A calçada é estreita. A entrada e saída de carros é um perigo porque
não há uma área de manobra. Eles aparecem em cima do pedestre, cuja faixa é
interrompida. Prioridade aos carros. A vida é secundária.
Como o fluxo é intenso em vários
horários ao longo do dia, o movimento de entrada e saída no shopping expropria
o espaço público. As ruas do Reduto são estreitas. Uma faixa é quase sempre do
estabelecimento, uma fonte de barulho, calor e impertinência sobre seus
vizinhos. Uma cidade com regras civilizadas não poderia permitir que ele
existisse no local onde está. O incêndio talvez pudesse fazer as autoridades
cumprir a parte que lhes cabe no assunto: olhar para fora do shopping, onde
está o povo, e não apenas para dentro, onde se abriga a clientela.