Ocorreu o que todos já desconfiavam, mas poucos envolvidos tinham 
coragem para afirmar. O publicitário Marcos Valério revelou finalmente 
que o chefe do esquema milionário do mensalão era nada mais nada menos 
do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
E Marcos Valério disse muito mais. Contou que o ex-ministro José Dirceu
 era apenas braço direito de Lula; que os recursos movimentados 
ilegalmente chegaram a R$ 350 milhões (até então eram R$ 74 milhões); 
que os encontros para engendrar os crimes ocorriam no Palácio do 
Planalto e no Palácio da Alvorada.
E ainda: que Marcos Valério tratou várias vezes com Lula a respeito das
 tenebrosas transações, e que o ex-presidente cuidava pessoalmente da 
coleta clandestina de recursos. Ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, 
cabia decidir quais políticos precisariam receber os recursos ilegais. 
“Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”, sentenciou Marcos Valério, em frase estampada na capa da revista. 
Por fim, Marcos Valério afirmou que havia conseguido do PT garantias de
 que não seria condenado, algo que não se concretizou. Agora ele teme 
por sua morte. Daí resolveu falar, segundo reportagem de capa da revista
 Veja. 
Uma questão obscura é que a revista Veja não
 admite que fez uma entrevista com o empresário. Diz que conseguiu as 
informações por meio de terceiros, amigos de Valério. Provavelmente não 
foi assim que as coisas ocorreram.
De acordo com o jornalista Ricardo Noblat, a revista havia feito uma 
entrevista gravada com Marcos Valério, que não consultou seu advogado, 
Marcelo Leonardo. Ao saber do teor das declarações do cliente, o 
advogado tentou cancelar a publicação. 
A revista se recusou a descartar a entrevista. A solução, acordada, foi
 afirmar que não houve qualquer conversa com um jornalista, mas que se 
tratava de um desabafo de Marcos Valério com conhecidos. 
Inclusive, esse risco de a conversa de Valério com a Veja ter
 sido gravado é o que explica não ter havido praticamente nenhuma reação
 da imprensa governista contra a revista, como tem sido a prática 
habitual no jornalismo chapa-branca. Houve o temor de desqualificarem a 
entrevista e receberem como resposta uma gravação desmoralizante. 
As negociações também explicam as ambíguas declarações do advogado de Valério, que negou a entrevista (assim como a Veja), e também não confirmou as declarações de seu cliente (tampouco as desmentiu).  A revista pode divulgar as gravações ainda na manhã de hoje.
De acordo com Noblat, Valério gravou um vídeo no qual incrimina meia República. A gravação está guardada em um cofre. 
Nesse meio tempo, o presidente do Democratas, José Agripino, divulgou uma nota cautelosa e lúcida. “O
 que eram suspeitas colocam-se agora como objeto real de investigação 
pelas revelações atribuídas a Marcos Valério, principal agente operador 
do mensalão. Se confirmadas as revelações fica evidenciado que o 
mensalão estava instalado no Palácio do Planalto e no Palácio da 
Alvorada, símbolos maiores do poder da República. O Brasil espera 
explicações”.
O presidente Lula foi informado da reportagem, mas não quis se 
pronunciar. Mas da maneira habitual, redobrou o nível de agressividade. 
Na última sexta-feira, ofendeu o candidato do Democratas à prefeitura de
 Salvador, ACM Neto, que lidera com folga as pesquisas. No sábado, Lula 
chegou ao ponto de insinuar que o candidato à prefeitura de São Paulo, 
José Serra, corre o risco de ter um enfarte.
Mas o fundamental nessa história é saber quais são os fatos. O mínimo 
que ser quer é a punição para todos envolvidos, em outras palavras, 
justiça. Esta semana, por acaso, o relator do mensalão no STF, ministro 
Joaquim Barbosa, começa a leitura da parte do processo que envolve o 
núcleo político da trama. Personagens como José Dirceu e José Genoino 
agora entram na linha de tiro.
Uma coisa é certa. Ninguém sabe mais sobre toda essa falcatrua do que o
 publicitário Marcos Valério, já condenado por lavagem de dinheiro, 
peculato e corrupção ativa.(Rede Democratas)