Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
Unindo-se, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Curionópolis e Eldorado dos
Carajás conseguirão sair do isolamento político em que se encontram e romper
com o paradoxo de terem muita riqueza e não se desenvolverem. Para alcançar
esses objetivos, precisarão formar um grupo forte, capaz de eleger deputados
estaduais e federais, senadores “e, por que não, até governador do Estado”.
Foi essa a proposta que Valmir Queiroz Mariano, do PSD, lançou, ao
assumir o cargo de prefeito de Parauapebas. Mesmo que o seu discurso de posse
não tivesse sido o mais consistente dentre os novos gestores municipais do
Pará, Parauapebas, à frente desse grupo de municípios que gravitam em torno da
mineração, merecia atenção especial da opinião pública estadual.
Os quatro municípios somam uma população de 245 mil habitantes, pouco expressiva
diante dos quase oito milhões de moradores do Pará. Sua área, de 16 mil quilômetros
quadrados, também é ínfima diante dos 1,2 milhão de quilômetros quadrados do
Estado. Mas o PIB de Parauapebas é de 16 bilhões de reais, equivalente a mais
de 20% do PIB paraense. O de Canaã passa de R$ 1,5 bilhão, com 2% de todo PIB
estadual. Já o PIB per capita de Parauapebas é simplesmente 10 vezes maior do
que o paraense e o de Canaã é cinco vezes superior.Os dois outros municípios
estão abaixo da média.
O prefeito de Parauapebas foi claro e audacioso na sua proposição. Ele
quer maior poder político do que o que tem. Seu primeiro passo anunciado será
formar uma associação de municípios mineradores, que já dispõem individualmente
de receita própria expressiva no conjunto do Estado. Em união, passam a ter um
peso maior, em condições de formar uma bancada política representativa no
parlamento local e federal. Com ela, o salto seguinte seria a disputa pelo
governo do Estado.
Nenhum político interiorano anunciou de público esse projeto, de forma objetiva
e como alvo de longo prazo. A meta é extremamente difícil. Só não se mantém
impossível porque falta até agora, aos demais líderes políticos que assumiram
as gestões municipais neste mês, a disposição para atingi-la.
Só vontade não basta, é claro. Mas a administração Simão Jatene,
repetitiva e sem dinamismo, como a dos demais grupos de elite encastelados na
capital, permite reapresentar, sob novo cenário, o questionamento ao perfil
territorial do Pará. O Estado sente a falta de lideranças. Os velhos centros de
formação se exauriram e envelheceram. Especialmente na capital.
Há um vácuo de representatividade que favorece a mudança e a novidade.
Talvez o prefeito de Parauapebas se beneficie desse vazio de homens, se for
além dos impulsos retóricos de posse, não acabar enveredando pelas velhas e
mesquinhas práticas políticas e tiver enchimento por baixo das aparências. Se
estiver entrando no jogo do poder para valer, em nome de uma região que
realmente pode aspirar a isso.
Valmir Mariano quebrou a dinastia do PT sobre o município que mais
fornece divisas ao Brasil, o segundo em exportação do país. A vitória lhe veio
contra adversários que contavam com o apoio do governo federal e recursos
milionários para a campanha.
Não é pouco. Mas pode ser uma conquista efêmera, se o novo prefeito
repetir os demais que se sucederam no controle de Parauapebas: de esperança na
eleição. Do Chico das Cortinas, Bel Mesquita e Darci Lermen se tornaram frustrações. Mariano assumiu já trabalhando na limpeza da cidade, tarefa fácil,
necessária e de efeito imediato, ao qual todos costumam recorrer quando começam.
Ao mesmo tempo, anunciou uma medida administrativa profilática: a
redução em 35% os gastos públicos da máquina administrativa. Prometeu aplicar o
dinheiro proporcionado por essa economia em serviços emergenciais de saúde,
saneamento básico, educação e transporte público.
Manifestou sua convicção de que um município com a receita que tem
Parauapebas não pode admitir que sua população “reclame por falta de água em
suas torneiras, atendimento nos postos de saúde, transporte coletivo caótico e
de segurança no trânsito da cidade”.
O discurso do prefeito, portanto, está correto. Começou a semear em
terreno fértil para uma escalada que pode fortalecer a área de mais intensa
mineração no Pará e questionar a capital sobre a sua relação com o interior de
um Estado tão grande e mal administrada.
Se não for apenas fogo de artifício ou se o propósito do idealizador não
for apenas o de usar os vizinhos como escada para seus planos pessoais, a
iniciativa do prefeito de Parauapebas pode retomar o tema da redivisão do Pará
num plano mais racional, técnico, justo e democrático, como é preciso.
O
plebiscito de 2010 mostrou que Carajás e Tapajós se deram mal porque praticaram
para um confronto que não tinham condições de vencer, exceto se a norma
constitucional fosse violada e o cálculo aritmético perdesse a validade. Uma
união em novo estilo tomaria outro rumo: convidaria os paraenses para um
esforço em comum de mudar a forma de exploração das suas riquezas em proveito
de todos, cada parte utilizando seus fatores próprios através de lideranças
habilitadas.
Os paraenses estão cansados de líderes que só pensam em si e no
seu grupo. O terreno está pronto para a boa semeadura. Mas não para novas
fraudes.