segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ana Júlia recua e diz não querer perder 7% do PIB gerado pela indústria Madeireira

Ricardo Galhardo
O Globo

A governadora do Pará, Ana Julia Carepa (PT), diz que seu Estado não pode pagar sozinho o preço do combate ao desmatamento da floresta amazônica no Pará -- que chega, segundo ela, a R$ 2 bilhões ao ano. A governadora quer criar alternativas econômicas nas cidades madeireiras e evitar que se repitam fatos como os ocorridos em Tailândia, terça-feira passada, quando mil manifestantes impediram o confisco de 13 mil metros cúbicos de madeira ilegal.

A senhora pretende pedir ajuda do governo federal no combate ao desmatamento?

Ana Júlia Carepa: Terei reunião com a ministra Marina (Silva) para apresentar o custo do combate ao desmatamento, porque a atividade madeireira ilegal representa R$ 2 bilhões ao ano, 7% do PIB do Pará. A conta não é pequena. O Brasil precisa conhecer o tamanho desta conta. Temos que fazer valer a floresta em pé mais do que vale a floresta derrubada. Propostas como incentivos fiscais federais, o ICMS verde, precisam ser levadas a sério e com urgência. Essa conta não pode ficar só com o povo do Pará porque o benefício é para o Brasil e para o mundo. Não é justo que só nós paguemos a conta.

Quanto custa?
Só as ações de fiscalização e retirada de madeira, iguais a esta que estamos fazendo em Tailândia, são uns R$ 50 milhões por ano. Além disso, tem o custo para a economia. Não posso perder R$ 2 bilhões (o orçamento do Estado para 2008 é de R$ 9 bilhões). Não queremos destruir a economia do Estado. Sou a governadora. Imagine se eu quero destruir a economia do meu Estado! Por isso, alguém tem que pagar a conta. Assim como o Brasil cobra do mundo (na questão da emissão de gases), o país tem que entender que é preciso ajudar a pagar a conta pelo combate ao desmatamento ilegal.

A senhora vai pedir ajuda da Força Nacional de Segurança?
Todo mundo sabe que o governo federal está preparando uma ação. Se necessário, vamos pedir ajuda. Há quatro meses solicitei ao ministro Tarso Genro que estudasse a possibilidade da Força Nacional ajudar a combater o desmatamento ilegal. Ele disse que iria estudar. Por enquanto, avaliamos que este reforço que virá nas operações do governo federal é suficiente.

Como atenuar o impacto na vida da população?
Não queremos causar impacto econômico. Vamos entrar lá com ações sociais, com mecanismos como a criação de fiscais ambientais que poderão receber até R$ 250, fazer cursos de capacitação profissional e incentivar a agricultura familiar. Não queremos custo para a população, mas sabemos que deve haver uma transição. Como será esta transi- ção? A transição é para pes- soas que querem vir para a legalidade. Tem uma parte que quer isso e outra que não quer. Não vão sobreviver todas. As que não querem se legalizar não vão sobreviver. Estamos dando chance para quem quer vir para a legalidade.

É suficiente para aliviar o impacto de perder R$ 2 bilhões?
Precisamos valorizar as atividades legais, fazer com que tenham valor econômico no mundo todo. Precisa ter outra atividade econômica, senão as pessoas vão fazer o que é mais fácil. Existe o instinto de sobrevivência. A maioria das pessoas são trabalhadores que querem viver com dignidade. Os madeireiros criticam a demora na liberação dos planos de manejo da floresta. A partir de segunda-feira entram mais funcionários. Estamos avaliando os projetos de forma criteriosa. Mas mesmo com este mutirão não tem como (aliviar a situação em curto prazo). Esbarramos na questão fundiária, pois boa parte das terras é pública e só no final do ano poderemos fazer licitações para exploração delas.

A senhora esperava a reação da população em Tailândia?
Esta reação foi incentivada pelos madeireiros inescrupulosos. Foi distribuída cachaça em Tailândia. Foi uma tentativa de intimidar o Estado, mas não vamos nos deixar intimidar. É questão de honra. Vou tirar aquela madeira nem que demore 20, 30, 50 dias.
(SÃO PAULO/AG)

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