sexta-feira, 28 de março de 2008

Memória de Santarém - Lúcio Flávio Pinto

Famílias com piano
Em 1937, pelas páginas do jornal "O Mariano", Gabriel Rodrigues dos Santos lamentava que os pianos de Santarém estivessem silenciosos, embora a cidade tivesse "um número assaz apreciável de pianistas e bons e harmoniosos pianos". Quinze anos depois, o maestro Wilson Fonseca foi questionado sobre a "falta de gosto da mocidade dos nossos dias" para a música, "quando é sabido que outrora Santarém "se orgulhava de sua apreciável legião de vocações musicais". Observava a "gentil leitora" que "presentemente só se ouve execuções de piano na residência" de Isoca, que seria "o único tocador do mais popular dos instrumentos de nossa época".
O maestro, instrumentista e compositor, porém, observa que, "embora vivendo para o lar, boas pianistas ainda o são as senhoras Beatriz Lalor Imbiriba, Anita Fonseca de Campos, Míriam Fona e outras". Também eram "bons manejadores do teclado" o irmão Geraldo, do Ginásio Dom Amando, e a irmã Canísia, do "Santa Clara". Juntava ainda Jorge Chaves Camacho, "recém-chegado a esta cidade e que por algum tempo será parte integrante da família mocoronga".

Ao Lago Grande
A região do Lago Grande de Franca, que abrangia os municípios de Santarém, Óbidos e Juruti, abrigava os maiores rebanhos de gado do Baixo Amazonas. Por isso, o deputado santareno Sílvio Braga requereu, no plenário da Assembléia Legislativa, que o Departamento de Portos, Rios e Canais providenciasse o alargamento e a dragagem do canal entre o povoado Acai e a Vila Curuai. Só assim o principal núcleo populacional do lago deixaria de ficar isolado do restante do município durante os seis meses da vazante do rio Amazonas. Pediu também a desobstrução dos igarapés Muratuba e Salé, caminho de entrada e de saída para o Amazonas.
Crescimento econômico
Entre as décadas de 40 e 50 do século passado houve um incremento nas vendas feitas a partir de Santarém. Em 1942 suas exportações somaram Cr$ 165 mil. Dez anos depois, chegaram a Cr$ 4,3 milhões, graças à comercialização de juta e, principalmente, madeira. O crescimento mostrou as limitações do único ancoradouro de que a cidade dispunha, um simples trapiche, com acanhadas instalações de armazenagem e reduzida área de acostamento. Começou então a campanha para a construção de um porto "com P maiúsculo", que só se materializaria na década de 70.
Até então o principal operador do velho trapiche de madeira era o Lóide Brasileiro, empresa federal de navegação que tinha uma agência em Santarém. Em 1948 o Lóide atendeu 38 navios que ancoraram na cidade, embarcando 9.275 volumes, com 1.600 toneladas, destinados ao sul do país, com renda bruta de Cr$ 1,1 milhão. Em 1947 fizeram escala em Santarém 47 navios, carregando 16.891 volumes, com 2.900 toneladas e valor de Cr$ 1,7 milhão. Em 1950 entraram 48 navios, transportando de Santarém pouco mais de 20 mil volumes, com 3.384 toneladas, no valor de Cr$ 1,9 milhão. Em 1951, 46 navios escalaram na cidade, carregando pouco mais de 41 mil volumes, , 6.136 toneladas, no valor de Cr$ 3,3 milhões. E em 1952, 46 navios, 54 mil volumes, 6.626 toneladas e Cr$ 4,3 milhões.
Aero Clube
No dia 5 de fevereiro de 1953, na sede da Escola Técnica de Comércio do Baixo-Amazonas (rua Siqueira Campos, 130), foi fundado o Aero Clube de Santarém, "sociedade civil desportiva, que se propõe estimular a navegação aérea, sob todas as suas formas e em todas as suas aplicações, objetivando sobretudo cooperar para a defesa nacional".
Os sócios fundadores foram: Milton Garcia, Harryson Curtis Testa, Augusto Cezar Sarmento, Wilson Maldonado Queiroz, Alberto Francisco de Castro, Ivan Vasconcelos, Helinor Colares, Loris Figueira, Antônio Vasconcelos, Clelios Santos, Demóstenes Figueiredo, Jairson Almeida, Janary Costa, Juarez Sirotheau Serique, Lary Figueira da Silva, Manuel Neves, Manuel Roland Fernandes, Manuel Romulo Fernandes, Nelson Colares, Osmar Cota, Paulo Lisboa, Sebastião Imbiriba, Sebastião Sirotheau e Solano Lisboa.
A primeira diretoria foi assim constituída: presidente, Harrison Curtis Testa; vice-presidente, Alberico Mendes de Nóvoa; 1º secretário, Jelinor Colares; 2º secretário, Larí Figueira da Silva; 1º tesoureiro, Alberto Francisco de Castro; 2º tesoureiro, Ivan Sussuarana de Vasconcelos. Por aclamação, Milton Garcia foi eleito presidente de honra.
Ordem do chefe
Um exemplo dos métodos autoritários de fazer política era dado pelo telegrama que o então senador Magalhães Barata mandou de Belém, em julho de 1947, para o prefeito de Santarém, tenente Domingos Bento da Silva, seu correligionário do Partido Social Democrático, delegado de polícia que nessa mesma ocasião assumira o cargo:
"Urgente - Domingos Silva - Santarém -Diretório deverá encetar a maior propaganda para ADHERBAL CORREA, que será o candidato a prefeito pelo diretório sob o meu intransigente. Abraços aos amigos. Saudações. Magalhães Barata".

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