terça-feira, 13 de maio de 2008

FDA QUER GARANTIR COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS DA CARGILL

Gisele de Freitas
Repórter

O padre Ediberto Sena, um dos coordenadores da Frente de Defesa da Amazônia (FDA) afirma que os membros da entidade estarão atentos ao Estudo de Impacto Ambiental do porto da Cargill para saber se o Eia/Rima vai se dar de forma verdadeira e se englobará todos os itens considerados fundamentais. Caso estes requisitos de compensação ambiental não sejam atendidos a Frente poderá entrar com uma representação judicial. O padre entende que a instalação da empresa no município “se deu de forma criminosa, uma vez que a Constituição Federal exige que empresas deste tipo façam um EIA/RIMA antes da instalação e não após, como está sendo feito pela Cargill”.
Para o Edilberto a praia de Vera Paz, que era um ponto turístico foi completamente exterminada e cerca de 20 famílias que residiam nas proximidades foram prejudicadas com a extinção da praia, de onde tiravam o sustento através de quiosques. Sena ainda acusou a Cargill, juntamente com a Companhia Docas do Pará de terem destruído um sítio arqueológico, que ficava no local onde as empresas foram erguidas. "Segundo a arqueóloga Ana Roosevelt toda aquela área é de sítio arqueológico, portanto, todas as construções feitas lá deveriam sair" destacou.
Edilberto ainda criticou a justiça brasileira. Ele entende que a condenação da Cargill foi apenas pela metade, pois a empresa só está sendo obrigada a fazer o estudo e não foi paralisada, como seria certo pela lei. "A igreja católica de vez em quando se reformula, a justiça deveria fazer a mesma coisa ou vai acabar se degradando. A própria Constituição Brasileira condena ao fechamento as empresas que causam impactos e não possuem o EIA/RIMA". Como que a justiça não condenou a Cargill a fechar?, questiona o padre.
Segundo Edilberto, a Cargill incentivou a plantação de soja na região, e os pequenos agricultores venderam suas terras para os sojeiros e foram para mais dentro da mata, aumentando o desmatamento ou vieram para a periferia da cidade, aumentando o desemprego e diminuindo a agricultura familiar. Ainda em relação às lavouras de soja, o padre afirma que os sojeiros ao não se contentarem mais com pouca terra acabaram entrando ainda mais na mata, desmatando-a. Os inseticidas jogados nas lavouras principalmente de avião acabam prejudicando as plantações que há em volta, como agricultura familiar e a própria floresta.
Ediberto ainda acusou a empresa de se comprometer em não comprar soja produzida em áreas devastadas por apenas dois anos, e de ter ignorado a proposta da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) e da FDA de prorrogar esta moratória por dez anos. "Eles pensam que não percebemos, estes dois anos que a soja não é comprada é o tempo que os produtores precisam para preparar a terra desmatada com outros produtos antes de começar a produzir soja. Quando propusemos que a moratória fosse por dez anos a empresa não quis nem discutir o assunto" esbravejou o padre.
Outra preocupação da FDA é com a água de lastro dos navios. Membros da Frente afirmam já ter visto navios jogando a água no próprio porto da Cargill. "Tempo é dinheiro para estas empresas. Para não perder duas horas esvaziando, os navios vêm mesmo cheios e deságuam no Tapajós enquanto vão sendo carregados de soja" afirma Sena.
Sobre a devastação promovida por empresas multinacionais na Amazônia Edilberto concluiu de forma taxativa. "A sociedade está dopada, não enxerga o tamanho do problema e o governo apóia a devastação da Amazônia" finalizou Sena.

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