segunda-feira, 2 de junho de 2008

Memória de Santarém - Lúcio Flávio Pinto

A imprensa brasileira faz 200 anos hoje.
É bom relembrar como era a imprensa santarena em 1952, tomando por base o artigo que Antonieta Dolores publicou no jornal O Baixo-Amazonas, editado por Elias Pinto, pai do jornalista Lúcio Flávio Pinto.
O próprio filho de Elias é quem conta, em texto publicado na série Memória de Santarém:
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Com um artigo na primeira página ("Tribuna da opinião livre do povo") da segunda edição, de 24 de maio de 1952, A . Dolores avaliou o lançamento. Dolores reproduziu opiniões conflitantes dos leitores da edição inaugural do jornal. Havia opiniões favoráveis e desfavoráveis, ponderadas e extremadas. "Satisfação de uns, aborrecimento de outros". Um "abastado comerciante", por exemplo, teve "opinião acertada", na avaliação da articulista: "agora, sim, diz ele, Santarém possui mais um órgão de publicidade e nele podem ser ventilados os mais sérios problemas, que tanto nos afligem".
Um leitor, entretanto, se manifestou frustrado: "Eu pensava que [o jornal] ia trazer notícias sensacionais e não vi nada". Esperava matérias mostrando "que o mercado não presta, que não temos luz, que as ruas continuam esburacadas e, no entanto, para cúmulo, encheu quase uma página com aquele Estatuto da Igreja Batista". Esse leitor não entendia ("Quem quer saber disso?"), sem perceber que se tratava de matéria paga, anúncio.
Todas as manifestações foram registradas pela autora do artigo e publicadas pelos donos da nova publicação, sem censura. Nem o jovem diretor, Elias Pinto (então com 27 anos), foi poupado. O "bruto elogio" feito a Gabriel Hermes Filho foi-lhe atribuído pelo crítico mais implacável do jornal. A. Dolores deu voz ao leitor, para quem o elogio "foi obra do Elias. Que o Elias não devia fazer isso, mas, no fundo, ele tinha razão. Não podia deixar de endeusar o chefe", correligionário do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
Depois de ouvir as opiniões conflitantes (como a dos que queriam que o jornal "conte tintim por tintim o que se passa aqui"), Dolores chega ao fim do seu artigo com estilo: "Estava serenando o ambiente quando entra um outro observador e joga esta no ar: - vocês podem dizer o que foi feito dos 5 milhões e 400 mil cruzeiros que a Prefeitura arrecadou ano passado? Isto é que eu quero saber. O resto não importa...
Suspendi a pena e olhei o pobre trapiche quase submergindo... Coitado do pobre! Estava envergonhado!E pensei com meus botões: - deixa estar trapiche velho que hás de ter repouso quando nascer o 'CAIS DE SANTARÉM'. E até lá...".
História
No número 16 Silvério Sirotheau já não aparecia mais no expediente como redator. O título do jornal passou a ter um hífen: O Baixo-Amazonas.No número 34, sob o título do jornal, havia o dístico: "jornal do povo a serviço da região".No número 40, no alto da primeira página, antes do título, surgiu uma frase: "...Os que não quiserem apodrecer à beira do caminho, roídos pelos corvos da intriga, dos interesses imediatistas das paixões subalternas, que venham conosco".
A Gráfica Baixo Amazonas Ltda., que editava o jornal, passou também a vender livros, pelo preço da capa. Em outubro de 1953 oferecia, dentre outros títulos, A Rua das Vaidades, As Ligações Perigosas, O Grande Pescador, Os Deuses Riem, Eu Soube Amar, Uma Aventura nos Trópicos, Tudo Isto e o Céu Também, A Exilada, A Vida de Jesus, Mulher Imortal, Fugitiva, Cidadela, O Sol é Minha Ruína, O Lago do Amor, Abismo, Eles Esperam Hitler.J
á no primeiro número a direção do jornal informou que estava tentando comprar uma linotipo no sul do país para que o Baixo Amazonas pudesse ter circulação diária, além de habilitar sua gráfica a prestar serviços ao público. Mas não realizou o plano.
O jornal acabou quando Elias Pinto se elegeu deputado estadual, em 1954.

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