sexta-feira, 13 de junho de 2008

Memória de Santarém - Lúcio Flávio Pinto

Política de elite
O Jornal de Santarém publicou, em julho de 1961, um violentíssimo (e bem elitista) editorial em contra a anunciada intenção do vereador Belarmino Paiva de Lima de se lançar candidato a prefeito de Santarém, na eleição prevista para o ano seguinte. Primeiro considerou a iniciativa precipitada, além de descabida. Quem estava no exercício do cargo era alguém "na altura de desempenhar essas elevadas funções pela sua capacidade conferida pelo diploma que conquistou em uma Faculdade de Curso Superior".
Já Belarmino não tinha credenciais "para chegar a alturas tão elevadas na política de Santarém, que é uma cidade de população civilizada", que reagia com "um sorriso de escárnio quando seus olhos deparam com as garatujas pelas calçadas anunciadoras da candidatura do pobre diabo". Belarmino estava criando sonhos "altos por demais para a pobreza de seus conhecimentos, para a insignificante posição que desfruta na política local".
Para o jornal, os partidos organizados deviam até ficar contentes de enfrentar alguém "sem chance e sem a mínima possibilidade de êxito", fadado a no final receber "vaias e assuadas, porque um idiota dessa ordem, um palhaço desse jaez não merecerá outra manifestação do povo, senão vaias e assobios, como uma advertência ou uma lição deste povo altivo, que saberá aplicar na hora aprazada o necessário corretivo ao atrevido, porque, afinal de contas, a Prefeitura Municipal de Santarém não é hospício".

A carne fraca
Para poder impor preços tabelados e controle da comercialização, a prefeitura fechou todos os talhos de carne que funcionavam fora do Mercado Municipal e em seguida abriu concorrência pública para a exploração oficial desse serviço no mercado. Venceu a Sociedade Pecuária Limitada, integrada por fazendeiros e criadores, que abateriam gado dos seus próprios rebanhos. Pretendia atender as queixas da população contra os açougueiros "que praticam essa arte de vender a carne sempre por mais e com falta de peso", prejudicando especialmente os mais pobres. Para ela, a carne verde ainda era o melhor e o mais útil alimento, "desde que seja vendido pelo preço da tabela e em pesadas exatas".

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