quarta-feira, 18 de junho de 2008

Por que a baixa avaliação do governo Ana Júlia?

Paulo Bemerguy
Espaço Aberto

A pesquisa Vox Populi que o Diário do Pará publicou em sua edição do último domingo foi a segunda, em menos semana, a atestar a baixa avaliação do governo Ana Júlia Carepa (PT).
No levantamento do Diário, ela aparece com 41% de avaliação negativa. Anteriormente, conforme informação veiculada pela Bandnews, no final da semana passada, Ana Júlia aparece na condição de governadora com pior avaliação em todo o País.
Ela só escapou de ficar ficou sozinha, no último lugar, entre os governadores sobre os quais o Vox Populi ouviu, porque teve uma companhia – e companhia nada edificante: da governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, que trabalha com o inimigo bem ao lado, o vice-governador Paulo Feijó, do Democratas (DEM).
Terremoto vivo, ambulante e operante, Paulo Feijó já provocou o esfacelamento político do governo a que pertence por ter revelado, com métodos pouco usuais, a corrosão moral que fez atolar as pretensões éticas do governo gaúcho no lodo do fisiologismo desbragado e sem limites.
Por aqui, no entanto, a governadora Ana Júlia Carepa não poderá nem lançar mão da desculpa de que tem um Paulo Feijó a atazanar-lhe a vida. Nem isso. Ao contrário, ultimamente seu vice, Sua Excelência o doutor Odair Corrêa, tem adotado tão elevados e nobres ideais que nos expõe a todos a um testemunho histórico: o despertar, o nascimento de um estadista. Alguns passos a mais e o vice de Ana Júlia se firmará como o estadista que todos os povos gostariam de ter.
O reflexo dos desacertosO que dirá, então, a governadora Ana Júlia se porventura alguém lhe perguntar a que atribui seu baixa avaliação. Dirá, provavelmente, que os números são inconsistentes e não batem com a realidade. E se disser isso, a governadora repetirá o que normalmente todos, na situação dela, costumam dizer.
E o que dirão os que assistem, acompanham e têm elementos para avaliar estes 18 meses de gestão da governadora Ana Júlia Carepa? Poderão dizer, sem medo de errar, que a governadora ainda não conseguiu superar a contento os reflexos de desacertos que, muito embora tenham alcançado enorme repercussão política dentro e fora do Estado, não tiveram como contrapartida ações e medidas suficientes para minimizar os efeitos, os impactos que deflagraram.
Levantamentos feitos no curso do ano passado já demonstravam que Ana Júlia estavam sendo mal avaliada. Em alguns grandes municípios do Pará, pelo menos 25% dos consultados em algumas consultas sobre a avaliação do governo petista não respondiam quando indagados sobre o pensavam da atual administração estadual.Isso já seria um mal indício para o governo Ana Júlia. Normalmente, quando isso acontece, é sinal de que a população se mantém, como se diz, na dela, à espera de que o tempo avance para que possa avaliar o governante com maior precisão. O tempo avançou, e a avaliação é a que se vê aí, nas pesquisas do Vox Populi.
Ser mulher, ser petista e ser nortistaA governadora Ana Júlia, quando confrontada com certas questões – ou com todas as questões – que se lhe oferecem, tem usado quase como um mantra a assertiva de que sofre as conseqüências de um triplo preconceito: por ser mulher, por ser petista e por ser da Região Norte. A última vez que a governador disse isso com todas as letras foi na entrevista divulgada pela Folha Online, na última segunda-feira.
Pode ser. Mas, se fatos, situações e circunstâncias forem sopesados na devida conta, a conclusão é de que a governadora já poderia começar a encontrar outra – ou outras – frases de efeito, capaz de amparar suas teses sobre preconceito, discriminação e coisas do gênero.Porque a verdade é que os fatos não dão razão à governadora para considerar-se a si mesma como alguém que enfrenta, todo dia e o dia todo, a condição humilhante de não conseguir desamarrar-se de estigmas que supostos machistas, antipetistas e antinortistas pretendem colar na imagem dela.
A vantagem nº 1: ser mulherAo contrário do que imagina, o fato de ser mulher é condição que credencia a governadora, que lhe é favorável, e não um motivo que dê margem a preconceitos. Afinal, ela é a primeira mulher a governar o Pará. Os paraenses não são preconceituosos, pois.
Disjunções políticas eventuais tendentes a menosprezar a condição de mulher da governadora não podem ser tomadas como indícios de atitudes preconceituosas que dominaram amplos segmentos. Devem ser tomadas, isto sim, apenas como grosserias e incivilidades episódicas protagonizadas por grosseiros e incivilizados que, infelizmente, povoam a vida pública. A esses, a governadora deveria simplesmente desprezar – porque são de fato desprezíveis -, e não acolher suas grosserias e incivilidades para tentar capitalizar politicamente a seu favor.
A vantagem nº 2: ser petistaO fato de ser petista também não pode representar desdouro contra a governadora. Porque o PT é um partido de projeção nacional e tem aprendido, sobretudo depois de eleger por duas vezes um presidente da República, que as aspirações de pureza ética devem ter contraponto as relações de poder, com toda a carga de impurezas que isso significa. Por conta disso é que o PT, neste particular, já avançou muito, ao relativizar situações que antes o partido tinha como inflexíveis e inegociáveis. Como é o caso, por exemplo, das concessões ao fisiologismo de aliados para poder governar.
A vantagem nº 3: ser nortistaE o fato de ser nortista e amazônida também não deveria pesar contra, mas a favor da governadora Ana Júlia. Porque ela, justamente por ser mulher e petista, poderia muito fazer valer essas duas condições para inaugurar procedimentos e condutas que, se não a tornassem uma estadista como seu vice, pelo menos lhe permitiriam almejar um papel de aglutinadora de forças políticas para mudar prática antigas, ultrapassadas e contrárias ao interesse da própria Região Norte.
A cabeleireira e a esteticista
Os desacertos que levam a governadora a amargar os baixíssimos índices de avaliação devem ser considerados com objetividade, ainda que, mesmo assim, dêem margem a explorações políticas.
Foi o caso, por exemplo, da nomeação logo no início do atual governo, da cabeleireira Manuella Figueiredo Barbosa e da esteticista Franciheli de Fátima Oliveira da Costa, escolhidas para funcionarem como assessoras especiais do gabinete da governadora. Qual a explicação para tal episódio? A explicação foi a de que as críticas a um ato administrativa destrambelhado, desastrado e inoportuno mal disfarçariam um preconceito (sempre ele), porque a governadora, como mulher, precisava apresentar-se com trajes e aparência dignos da relevância do cargo que ocupa, daí a necessidade de contar com o auxílio permanente de uma cabeleireira e de uma esteticista.
Por que não encontrar uma solução, digamos, mais racional para a satisfação dessa necessidade inerente à condição de mulher da governadora? Era preciso nomear as duas profissionais como assessoras especiais da Governadoria? É claro que não. E tanto é assim que as ambas as profissionais foram exoneradas, tão logo revelou-se a situação esdrúxula em que se encontravam. Se foram exoneradas, é porque o governo admitiu que houve um erro, e não preconceito, nas críticas que foram feitas.
O caso da adolescente de AbaetetubaEste é apenas um exemplo, talvez o mais emblemático, de que o discurso ganha asas e voa para bem distantes dos fatos, todas as vezes em que é difícil oferecer explicações e justificativas condizentes para certas situações que levantam clamor e indignação.
Foi o caso da adolescente presa com homens numa cela da cadeia de Abaetetuba, um escândalo com repercussões até mesmo fora do país. Também ali recorreram-se a dois discursos: o primeiro, mostrando que aquela barbaridade com a menor acontecera em decorrência do legado de governos anteriores, que deixaram um sistema prisional sucateado; o segundo, para ressaltar que as mesmas deficiências no setor carcerário do Pará repetem-se em outros Estados do País.
A cobrança de quem está no poderComo se viu, nem um argumento, nem outro foram suficientes o bastante para minimizar a certeza de que a governadora é a atual governante do Estado. Nessa condição, é justo que sejam cobradas medidas dela própria, como governadora atual do Pará, e não de governantes anteriores. Porque, se isso fosse razoável, então seria justo debitar até mesmo o congestionamento numa rua de Belém a erros que remontam a 1500, quando Cabral aportou no Brasil; ou que provêm de 1616, quando Francisco Caldeira Castro Branco desembarcou na área que depois seria o Forte do Presépio, em Belém.
Motivo de grande desgaste também tem sido a demora para a entrada em funcionamento do Hospital Regional do Oeste do Pará, em Santarém. E se não bastasse a demora, que por si só poderia demonstrar apenas inapetência administrativa, avolumam-se as suspeitas de irregularidades que motivaram o Ministério Público a ajuizar duas ações, uma de improbidade administrativa, e uma outra criminal - contra o ex-secretário de Saúde Halmélio Sobral, Roberto Cardoso Massoud, diretor Administrativo e Financeiro da Sespa, e Antonio Marcial Abud Ferreira, presidente da Comissão Permanente de Licitação da secretaria.
Por tudo isso, merecem atenção - muitíssima atenção - por parte do governo do Estado as aferições negativas sobre o desempenho do governo Ana Júlia. Até porque o tempo avança. E já se caminha para metade do mandato da governadora.
O tempo dos ajustes já acabou. Também já é passado o período propício para se alegar, como normalmente se alega, que o governo anterior deixou um cenário de terra arrasada. E não se discute aqui se deixou mesmo ou não.Discute-se, sim, que é tempo de começar a colher alguma coisa.Se a colheita demorar muito, o produto apodrece.

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