quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pará tem muitos desafios para os próximos prefeitos

Um dos estados campeão de desmatamento no país é o Pará. No último ano foram devastados, segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 2259,9 km² de florestas, dando espaço para fazendas de gado e soja - além da atuação de madeireiros, em sua maioria agindo na ilegalidade. Trata-se de um grave problema que abrange toda a região amazônica e que será muito explorado pelos candidatos a cargos públicos nas eleições municipais de 2008. Esse especial do site Amazônia sobre o processo eleitoral dará enfoque maior às cidades que constam na lista dos 36 municípios que mais desmataram a floresta elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em janeiro desse ano. O Pará foi 'contemplado' com 12 representantes nessa listagem. São eles: São Félix do Xingu, Santana do Araguaia, Ulianópolis, Altamira, Cumaru do Norte, Novo Progresso, Dom Eliseu, Santa Maria das Barreiras, Paragominas, Novo Repartimento, Rondon do Pará e Brasil Novo.

Esse recorte não impede, entretanto, que outras cidades também tenham seu processo eleitoral acompanhado de perto, seja por sua importância econômica, seja pelos problemas sociais que enfrentam. A capital Belém e a cidade de Santarém são dois exemplos disso.

Os mesmos problemas

Por essas cidades estarem localizadas numa das regiões menos desenvolvidas do país, a população da região convive ainda com muitos outros déficits de atendimento por parte do poder público. O sistema educacional é debilitado e falho. Dados do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica, o Ideb, colocam esse municípios na base da escala avaliativa. Aquele que apresenta melhor colocação é Altamira, que recebeu conceito 4,3 - maior até que o da capital do estado, Belém, que obteve 3,2 -, sendo que a nota máxima é 10.

A saúde da população é outro caso emblemático. Além do baixo número de estabelecimentos e de leitos no Sistema Público de Saúde (SUS), problema que afeta a todos os municípios acima listados, há a crise da Santa Casa de Misericórdia de Belém, que registrou, de março a junho, mais de 110 mortes de recém-nascidos em suas dependências. De acordo com levantamento feito pelo próprio governo do estado, os óbitos são resultados de fatores como o hospital possuir condições precárias de transporte, que carecem de equipamentos adequados, superlotação (com um funcionamento quase 50% acima de sua capacidade) e problemas estruturais.

As principais atividades que movem a economia local são: o extrativismo mineral (ferro, bauxita, manganês, calcário, ouro, estanho) e vegetal (madeira), agricultura, pecuária, criações, indústria e turismo. A pecuária é mais presente no sudeste do estado, com um rebanho calculado em mais de 14 milhões de cabeças de bovinos.

A indústria concentra-se principalmente na região metropolitana de Belém, com os distritos industriais de Icoaraci e Ananindeua. Destacam-se também como fortes ramos da economia a indústria madeireira e moveleira, com um pólo moveleiro instalado no município de Paragominas.

Com a expansão da cultura da soja por todo o território nacional, aliada à falta de áreas livres para seu plantio nas regiões sul, sudeste e até mesmo no centro-oeste, onde a soja se faz mais presente, as regiões sudeste e sudoeste do Pará se tornaram uma nova área de atração para esse ramo da atividade agrícola. Pela rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163) é escoada boa parte da produção de soja do Mato Grosso, que segue até o porto de Santarém, aquecendo a economia da cidade tanto pela exportação do grão como pela franca expansão de seu plantio: a produção local já representa 5% do total de grãos exportados.

Floresta no chão

Os 12 municípios paraenses listados pelo MMA desmataram juntos 1.745,6 km² no último ano. Isso equivale a 77,2% de toda a floresta derruba no estado no mesmo período. O destaque negativo vai para São Felix do Xingu, cidade que representa bem o caos fundiário da Amazônia. Somente nesse município foram devastados 556,7 km². A cidade é conhecida pela forte presença da pecuária.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam a presença de 1.596.411 cabeças de gado no município que tem 59.238 habitantes. Ainda de acordo com o IBGE, foram extraídos no ano de 2006, entre madeira utilizada para tora ou lenha, 69.728 m³ da região de São Felix do Xingu. Considerando que as estimativas apontam que cada hectare de terra produz uma média de 30m³ de floresta, e que no último ano foram desmatados 55.670 hectares - ou seja, 1.670.100m³ - é possível verificar quão parco é o controle da atividade madeireira na região.

(Fonte: Amazonia.org.br)
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Nota da redação: Ao contrário do que diz o texto a Br-163 ainda não é a rota de exportação de soja do Mato Grosso para o porto de Santarém. A soja exportada através do porto da Cargill em Santarém é trazida de barcaças pelo rio Amazonas, depois dessa carga percorrer a rodovia que liga a Mato Grosso a Rondônia.

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