quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Democracia avançada só com bom jornalismo

Ciclo de conferências homenageia o bicentenário da Gazeta do Rio de Janeiro e discute o papel do jornalismo nos tempos do regime militar

Em 2008 são comemorados os 200 anos da imprensa no Brasil e os 40 de um marco que representou o cume da censura aos jornais brasileiros. O ano de 1968 ficou estigmatizado pelo mais severo decreto do governo militar, o Ato Intitucional nº 5. Foi em uma sexta-feira, 13 de dezembro, que o então ministro Jarbas Passarinho marcou a reunião de decretação do famigerado AI-5 com a hoje tristemente célebre frase: “Às favas todos os escrúpulos de consciência”. As decisões anunciadas naquele dia perdurariam por mais de uma década.
Quem trabalhou na cobertura jornalística naquela época foi o jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, um dos participantes do Ciclo de Conferências A Imprensa discute a imprensa, evento que ocorreu ontem à noite no auditório da Imprensa Nacional e faz parte da agenda comemorativa do bicentenário do órgão e do Correio Braziliense.
Raimundo dirigiu jornais progressistas entre 1964 e 1984, além de ter feito parte da equipe que fundou a revista Veja, junto com Elio Gaspari. No debate de ontem, ele destacou o comportamento de Veja na ditadura com as reportagens especiais sobre a tortura durante os anos mais duros do período. “Não imagino uma democracia avançada sem uma imprensa mais avançada. Por isso, é importante que o cidadão se eduque, conheça mais a realidade, que a compreenda e seja um militante na sua área”, destacou.
Platéia
Ouvir de quem acompanhou de perto os tensos momentos vividos nas redações durante o regime militar foi o que levou a estudante Flaviana Damasceno, 20 anos, à palestra pela segunda vez. Ontem, a presença do repórter especial, colunista e blogueiro do Correio Braziliense Gustavo Krieger, que foi seu professor de jornalismo político, foi um motivou a mais. “Quando li que o Krieger participaria desta edição resolvi vir. Mas o tema e os demais participantes também me influenciaram. Li o livro do Zuenir Ventura 1968 – O ano que não terminou e comecei a admirar a década de 1960. Com isso, acho interessante ouvir quem viveu a época e espero me inspirar muito e tirar o máximo proveito desse encontro”, contou.
O jornalista Gustavo Krieger, que foi o último a conversar com os participantes, contou um pouco de sua experiência profissional e falou sobre as redações hoje. Ele, que começou a carreira no fim da ditadura militar, em 1985, compartilhou com o público sua experiência na cobertura de outro momento polêmico, o governo Collor. “Quando você passa por um momento de repressão, surgem os grandes jornalistas que ocupam bastante espaço nas redações e se revelam, como contou aqui um dos maiores nomes do jornalismo de esquerda”, afirmou ao se referir a Raimundo Pereira.
Também estiveram presentes no debate os jornalistas, Carlos Chaparro e Ciro Marcondes Filho, professor da ECA-USP. O mediador foi o diretor-geral da Imprensa Nacional, Fernando Tolentino Vieira.
(Fonte: Correio Brasiliense)

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