Alexandre Canazio
Canal Energia
A Amazônia sofre mais com os desmatamentos e queimadas do que com os impactos das hidrelétricas. Essa é a constatação de um levantamento feito, recentemente, pela Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução em Energia Elétrica. A entidade levantou o impacto de seis projetos importantes: Jirau, Santo Antônio, Tijuco Alto, Pai Querê, Santa Isabel e Belo Monte.
Segundo a Abiape, as seis hidrelétricas juntas terão uma área de reservatório de 1.278 quilômetros quadrados, sendo que a área desmatada atingirá 1.022,4 km². Essas usinas, quando prontas, terão 19.147 MW de potência instalada. Ou seja, serão desmatados 0,14 km² por MW, em média. O estudo mostra que, em compensação, a derrubada da floresta, somente, no primeiro semestre deste ano devastou 4.919 km².
Com isso, pode se estimar que as usinas vão afetar uma área correspondente a 20,8% do desmatado na floresta. Em relação à área total do bioma amazônico de 5,217 milhões de km², as usinas desmatarão 0,02% da área total. Segundo Mario Menel, presidente da Abiape, o levantamento quer chamar a atenção para a necessidade de se discutir o papel das hidrelétricas.
"Esse levantamento veio da nossa preocupação com o aumento da base térmica na matriz e do encarecimento da energia. Isso afeta a competitividade dos negócios", observa o executivo em entrevista à Agência CanalEnergia. Ele lembra que o tamanho dos reservatórios vem dimuindo, aliado às novas tecnologias das turbinas. As hidrelétricas em operação hoje têm uma produtividade de 0,51 km²/MW.
"Os reservatórios equivalentes do país, que estavam em cinco anos, ou seja, poderiam agüentar uma seca por esse tempo, agora, estão em um ano", ressalta Menel. Por isso, para ele, deve-se discutir racionalmente, sem paixões, a construção de hidrelétricas na Amazônia. "Há notadamente uma má vontade com as hidrelétricas", completa.
Enquanto o desmatamento e queimada da floresta amazônica por fazendeiros e madeiros ilegais acontece descontroladamente, afetando fauna e flora, Menel lembra que, para se fazer a supressão de vegetação para a construção dos reservatórios, o setor elétrico é supervisionado por órgãos e organizações ambientais, além da sociedade brasileira e internacional.
"As ONGs deveriam se preocupar mais com o desmatamento do que com o setor elétrico que é controlado. Temos vários mecanismos de controle. Chega a ser meio revoltante, deixar o desmatamento e as queimadas ocorrerem indiscriminadamente", desabafa o executivo.
Menel apóia o posicionamento do ministro de Meio Ambiente, Carlos Minc, de discutir os projetos e adaptá-los ao contexto atual de desenvolvimento sustentável. "O Minc já admitiu que as hidrelétricas são melhores que as térmicas, mas ressaltou a mudança de modelo", lembra, referindo-se à diminuição dos reservatórios.
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