A cidade e suas variantes
Sob esse título, no final de 1964, O Jornal de Santarém fez uma crônica dos costumes da cidade, se não de sua população por inteiro, ao menos de sua elite na época.
O primeiro tópico reivindicava que o Centro Recreativo "não deve continuar parado, com os seus soberbos salões mergulhados em silêncio". Observava que o clube era o "único ponto de diversões e reuniões elegantes", possibilitando aos seus associados sair "deste isolamento em que vivemos mergulhados e o único ponto que oferece condições favoráveis para o intercâmbio social", à falta de uma sede campestre para qualquer outro tipo de programa. Era em suas reuniões elegantes "que os jovens iniciam contatos sentimentais, prenúncio de um noivado e assim matrimônio".
A outra observação era sobre o hábito irregular dos moradores das ruas de maior movimento no centro da cidade de estacionar seus carros na via pública, apesar da proibição do Regulamento de Trânsito, "diminuindo a largura da pista que as nossas ruas estreitas oferecem para o tráfego de veículos". Quem não fosse cauteloso estava arriscado de embarrar "com o calhambeque do figurão que está à porta de sua casa sem dar confiança à Delegacia local".
Outra referência era à necessidade de que o Cinema Olímpia "deve ter um policiamento rigoroso, já que toda classe de gente tem ingresso nessa nossa única casa de exibições cinematográficas". Sustentava que "pessoas embriagadas, descalças, roupas sujas devem ser impedidas de entrar, cabendo ao homem da borboleta, com a cobertura de dois soldados, impedir".
A partir de um incidente entre uma jovem assistente e um homem aparentemente embriagado, que se sentou na poltrona ao lado dela, o articulista defendia que os donos do Olímpia "deviam arranjar um outro cinema, noutro local, embora mais modesto e mais barato, para esses beberrões e mesmo para os que não têm bossa para freqüentar o nosso elegante cine da praça da Matriz".
Os novos cinemas não apareceram, mas o policiamento foi instalado no Olímpia, garantindo a integridade dos seus seletos freqüentadores.
O último comentário era a respeito do combate à gastroenterite infantil desencadeada pelo então capitão Magalhães Barata, quando assumiu a interventoria no Pará, na década de 30 (do século passado). A imediata e eficaz providência consistiu em instalar em Santarém "um posto médico com guardas habilitados e munidos de aparelhos para verificação se o leite estava puro e quando continha água era derramado no rio".
A medida sustou a doença "e assim o sacrifício de dezenas de crianças", que tomavam leite contaminado. Mas a fiscalização desapareceu e o leite com água voltou a ser vendido, "criminosamente e às escâncaras". O jornalista assegurava que o morticínio voltara a acontecer. "E quem quiser saber da chacina que a gastroenterite pratica na população infantil de nossa cidade, vá ao cemitério e verifique as dezenas de novas sepulturas de crianças, que estão a atestar o resultado negativo da ingestão de leite com água impura".
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