sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Morte do diretor jurídico do Líder: Investigação na surdina

Lúcio Flávio Pinto
Jornal Pessoal


O caso do assassinato do diretor jurídico dos supermercados Líder, José Francisco Vieira, sumiu do noticiário policial dos jornais. O desinteresse não se deve à falta de motivos para esclarecer o crime, praticado no dia 7. Dos seis possíveis participantes do assalto, seguido de morte, na configuração de latrocínio, que é a versão oficial para o caso, só quatro estão presos. Um está foragido e outro ainda nem foi identificado. É o personagem que não foi flagrado pelas câmeras de televisão da residência do advogado e de um prédio vizinho. Ele estaria ali para fiscalizar a execução do assalto ou algo mais do que o que até agora foi admitido pelos criminosos?
Os quatro, que falaram em dupla em dois momentos diferentes, disseram coisas contraditórias, provavelmente inventaram algumas coisas e esconderam outras. Suas histórias são inconvincentes. Eles planejaram o assalto durante toda uma semana, com observações meticulosas sobre os hábitos do advogado e de sua família. Os quatro que já foram presos têm extensa folha criminal, já cumpriram penas e se evadiram da prisão. Mesmo com toda experiência, cometeram erros infantis. Emerson Viana, de 23 anos, por exemplo, devia apenas dirigir o Astra prateado, o veículo de apoio (um táxi também dava cobertura).
Mas quando uma guarnição policial passou em frente à residência de Vieira, Emerson, mais conhecido por Cearazinho, deixou o carro atravessado na calçada e assumiu a liderança do assalto. Foi ele o único que conseguiu entrar antes do portão eletrônico fechar. Atracou-se ao advogado, imobilizou-o, obrigou-o a atirar-lhe o controle do portão e quando foi acioná-lo percebeu que Vieira tirou seu revólver do porta-luvas do seu próprio carro e atirou, errando. Cearazinho o matou com dois tiros, o segundo característico de execução.
Ele e seu companheiro, Marcelo Rodrigues Santiago, de 29 anos, desfizeram a dúvida que ainda era mantida: sabiam, sim, das câmeras de televisão, através de cujas imagens a polícia os identificou. Mas não se preocuparam em esconder seus rostos. Sequer trocaram de roupa depois do crime: eram as mesmas que usavam ao serem presos, em Fortaleza, uma semana depois. Apesar dessas falhas primárias, tiveram a iniciativa (e a capacidade) de mandar o Astra, que não é carro roubado, de caminhão para São Luís do Maranhão, de onde prosseguiram para o Ceará, onde Emerson tem família. Não é procedimento de assaltantes comuns, reunidos circunstancialmente para um ataque.
Nas poucas declarações que fizeram à imprensa, os quatro criminosos pareciam mais empenhados em ocultar do que em revelar, ou em despistar. Cearazinho, demonstrando segurança, foi irônico e sarcástico. Quando um repórter do Diário do Pará lhe perguntou se ele já matara alguém antes, respondeu: “que eu saiba nunca matei ninguém”, além do advogado do grupo Líder. Ou seja: sua afirmativa é verdadeira até que a polícia prove o contrário. Se pegar os nós soltos, a polícia poderá refazer o fio da meada e apresentar outro novelo. Mas só se quiser. A imprensa não está cobrando mais nada: calou-se. Por quê?

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