segunda-feira, 27 de julho de 2009

Belline Neto: Se marcou, tem que bater

Contavam os mais antigos que, certa vez, numa cidadezinha de um interior de algum estado do país, jogava-se uma partida de futebol. A equipe da cidade contra o time de alguma outra cidade próxima. O clima de rivalidade, como é claro, ia muito além dos jogadores, valorosos guerreiros em luta encarniçada pela honra de suas respectivas cidades. Nessas horas é que se vê se realmente um filho não foge à luta. Os habitantes das duas urbes interioranas depositavam toda sua fé, ansiedade e expectativa naquelas quarenta e quatro pernas, boa parte delas feitas de madeira sem lei, as chamadas pernas de pau. Mas isso era o que menos importava naquela altura do espetáculo beligerante. Jogo duro, empatado e já chegando ao final, num gesto de coragem quase épica, o árbitro da partida apita um pênalti em favor da equipe visitante. Alguém precisa de alguma ajuda para imaginar o ânimo que se instalou entre os torcedores a cidade anfitriã? O gosto de sangue tomou conta das bocas, dos olhos, das cabeças e dos corações dos locais diante da ameaça de uma derrota que liquidaria, num só golpe, toda a honra e tradição da cidade. Na tribuna de honra, a tudo assistindo com olhos graves e prenhes de responsabilidade, o coronel da cidade, aquele cujas mãos capitaneavam o timão da região. Nesse instante, diante do impasse, da gravidade do momento que exigia atitude e capacidade de iniciativa de que só os líderes e condutores são dotados, o coronel desceu da tribuna e se dirigiu ao palco de lutas. Em passos comedidos, mas firmes, sem alterar semblante ou expressão, guiado pela superioridade natural dos que mandam, foi ao encontro do árbitro da partida e perguntou: "O senhor marcou o pênalti?" Sua senhoria, entre incrédulo e aterrorizado, gaguejou um "Sim senhor, coronel". Ao que a mais importante patente do local deu seu veredicto: "Nesse caso, se o juiz marcou o pênalti, então vai ter que bater. Só que, do lado de lá".

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