Reynaldo Jardim*:
Aos surdos
Um coração, urgente,
Eu peço agora
Para quem, vendo chorar,
Não consola.
Para quem o tem de plástico
Ou de granito
E que, ouvindo gritar,
Se alegra com o grito.
E que, ouvindo gemer,
Não fica aflito.
Antes, com a ponta da faca,
Transforma o gemer em grito. (...)
Para quem só se contenta
Com a morte em tal proporção
Que queima a raiz do céu,
Que torra a ave no chão.
Não é preciso que seja
O melhor coração do ano.
(O mundo melhora muito
com um coração quase-humano)
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* Jornalista e poeta, 82 anos, abrigou e propagou três dos mais importantes movimentos da cultura moderna brasileira, o Cinema Novo, o Concretismo e o Neoconcretismo (uma dissidência carioca ao grupo paulista formado por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari).
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