domingo, 2 de agosto de 2009

Técnica de retirar cárie sem anestesia e uso da broca é utilizada como política pública no Brasil

Do Correio Braziliense:

Enfrentar a cadeira do dentista já é de dar medo em muito marmanjo, imagina então se o paciente é uma criança. Mas é possível retirar a cárie sem usar a broca, aquele instrumento que perfura o dente e faz um barulho de arrepiar. A técnica é bem simples, e é chamada Tratamento Restaurador Atraumático — ART, pela sigla em inglês. Não é nenhuma novidade na odontologia, mas após ser esquecida por um bom tempo começou a tomar fôlego nos últimos anos no Brasil e em vários países do mundo.

A ART foi inventada na década de 1980 pelo pesquisador holandês Jô Frencken, que estava na África e não tinha como realizar o tratamento odontológico convencional em comunidades carentes, onde, muitas vezes, nem havia energia elétrica. A solução quase sempre era a extração do dente, o que angustiava o dentista — por saber que era possível recuperá-lo. Foi então que teve a ideia de utilizar um material chamado ionômero de vidro, em substituição às tradicionais amálgama e resina, materiais utilizados nas obturações convencionais.

“Uma vantagem dessa técnica é que o ionômero libera flúor continuamente e endurece rapidamente (de três a quatro minutos), sem precisar do fotomolimerizador (aparelho elétrico que emite luz azul que ajuda a secar a resina)”, explica Soraya Coelho Leal, professora de odontopediatria da Universidade de Brasília (UnB), e coordenadora de uma pesquisa realizada em parceria com a Universidade Radboud, na Holanda, onde atua o pesquisador Frencken.

Na América Latina, o México é o país em que o ART está mais largamente difundido. Desde 2002, faz parte do programa oficial de saúde do governo. Em novembro, o país apresenta os resultados na população em um congresso que será realizado na Venezuela para comemorar os 20 anos de aplicação da nova técnica. No Brasil, os primeiros tratamentos dentários ART são da década de 1980 em Bauru (SP).

Em 2006, a técnica passou a ser adotada pelo Ministério da Saúde no programa Saúde da Família, como estratégia para ampliar o acesso à assistência. “É um tratamento rápido, com resultado semelhante ao de outras técnicas, e que nos dá tempo para investir em outras frentes no programa de saúde bucal”, explica Gilberto Pucca, coordenador Nacional de Saúde Bucal do Ministério da Saúde. Atualmente, 18 mil equipes do programa Brasil Sorridente aplicam a técnica ART pelas cidades brasileiras. As famílias carentes ainda recebem kit com creme dental e escova para prevenir novas cáries — 80 milhões de kits serão distribuídos.

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