terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pro-Saúde cobra 20 vezes mais caro por um exame no Hospital Regional

Miguel Oliveira
Repórter

A Pro-Saúde, organização social que administra o Hospital Regional do Baixo-Amazonas, cobra preços superfaturados por serviços prestados para a secretaria de Estado de Saúde Pública(Sespa). Por um exame de fezes é cobrado R$ 32,00 no hospital regional enquanto na rede de laboratórios conveniada ao SUS o mesmo procedimento custa R$ 1,45, cerca de vinte vez mais barato. Esses dados fazem parte do levantamento dos custos de manutenção do referido hospital apresentados, quarta-feira, no Barão Center Hotel, aos secretários municipais de saúde da região Oeste do Pará pela diretora-técnica da Sespa Domingas Alves.
A revelação foi feita quase que por um acaso. Domingas tentava convencer os secretários municipais de saúde a não encaminhar pacientes ao hospital que necessitem de atenção básico ou de média complexidade. " Cada paciente que é internado no hospital regional paga os custos como se fosse de alta complexidade e quem perde com isso sãos municípios. Um exame de fezes, por exemplo, no hospital regional custa R$ 32,00, afirmou.
O debate esquentou ainda mais quando o médico Valter Sinimbu, responsável pela regulação do atendimento no hospital regional, cotejou alguns números apresentados pela Sespa durante a reunião. " A Sespa está pagando a mais para a Pro-Saúde, que está oferecendo serviço de atendimento de urgência e emergência, sem estar credenciado para isso, a um custo muito maior do que praticado pelo hospital municipal", reclamou Sinimbu.
Segundo o médico, a Pro-saúde não tem como fazer urgência e emergência e usa de um artifício de considerar estes procedimentos no lugar de 'acolhimento de pacientes", que são aquelas pessoas que ingressam no hospital na véspera para exames ou internações. Segundo dados apresentados por Domingas, no último semestre a Pro-Saúde fez 7.200 atendimentos de urgência e emergência enquanto o hospital municipal, segundo Sinimbú, que recebe a maior demanda, fez 12 mil.
Outro exemplo de superfaturamento dos preços repassados a Sespa pela Pro-Saúde está no custo médio de internação para atendimento de cobrado pela OS para procedimentos similares ao hospital municipal. Enquanto o custo médio de um paciente é de cerca de R$ 1.300,00, no hospital regional esse custo sobe para R$ 7.200,00. Segundo Sinimbu, enquanto o município gasta R$ 800 mil para fazer 600 internações, a Pro-Saúde cobra da Sespa R$ 2,9 milhões para atender a 413 pacientes.
"É por isso que estamos revendo as metas com a Pro-Saúde", reagiu a secretária Sílvia Comaru, também presente à reunião acompanhada do coordenador dos hospitais regionais Roberto Carepa.

Parlamentares questionam

Na sessãoda Câmara de Vereadores, terça-feira, Silvia Comaru foi alvo de inúmeros questionamentos que exigiam esclarecimentos a respeito das demissão dos funcionários, da paralisação de serviços médicos hospitalares, do não pagamento em dia do salário dos médicos e do não chamamento dos concursados que até hoje esperam ser chamados para trabalhar no Hospital.
Os vereadores cobraram da secretária Silvia Comaru, transparência na gestão do Hospital e a regularização dos salários dos médicos e pediram que de três em três meses a Secretaria de Saúde do estado preste contas aos vereadores de Santarém e da região do dinheiro investido, detalhando em que e como está sendo gasto. Os médicos pediram a volta imediata dos serviços hospitalares que foram paralisados em função da demissão dos profissionais que atuavam nessas áreas.
O deputado Alexandre Von (PSDB), cobrou o funcionamento pleno e imediato do Hospital Regional. e o deputado Carlos Martins (PT), que é médico sugeriu como solução a criação de um mecanismo junto à 9ª Regional de Saúde, para acompanhar a atuação do Hospital no cumprimento dos serviços de um modo geral. O deputado Antonio Rocha (PMDB), cobrou da secretária Silvia Comaru o pagamento imediato dos médicos que atuam no Hospital.
Foi o vereador Nélio Aguiar em sua fala, que contextualizou a crise por qual passa o Hospital Regional: "Esperamos muitos anos por esse hospital, ele é uma conquista nossa e o que está acontecendo hoje é um retrocesso".

Concursados não serão chamados

A secretária de saúde do estado, médica Sílvia Comaru,descartou a municipalização do hospital, garantiu o retorno de algumas especialidades que foram canceladas pela Pro-Saúde, mas deixou claro que serviços de média complexidade terão que ser atendidos pelo hospital municipal de Santarém.
Sobre a volta dos concursados para vagas no hospital regional e a proposta de municipalização ,a titular da Sespa foi enfárica ao descartar essa possibilidade.
“Quando a gente diz alta complexidade, a gente diz cirurgia cardíaca, hemodiálise e outros procedimentos e fazer os procedimentos de média complexidade que nós temos capacidade instalada. A nossa idéia é que esse hospital seja regional”, afirmou.

4 comentários:

Anônimo disse...

MEDICO MOCORONGO

Estudamos 14 anos de colegial, vencemos um vestibular lutando contra milhares, passamos 6 anos longe de casa virando noites de estudos e estágios em nossas faculdades. Uma formatura vitoriosa. Mais uma luta vencida nas provas de residência (3, 4 ,5 anos ) de especializações. Alguns ficaram por lá outros decidiram voltar pra casa, Santarém, com o objetivo de aqui aplicar a melhor medicina aprendida lá fora. Nos apresentaram um Hospital com estrutura para isso, HRPO, bonito, moderno, bem equipado, justo e perfeito, mas faltava pessoal. Equipes de médicos, enfermeiros e técnicos foram montadas, acreditamos e começamos uma revolução da medicina prestada no serviço publico na região, exames, consultas e cirurgias que nunca haviam sido feitas pelo SUS na região e até mesmo em todo o interior do Pará aqui foram iniciados. Enfrentamos falta de equipamento (levamos os nossos quando foi preciso), não pagamentos de salários ( Abril de 2008 + 10 dias de Maio), mudança de administração, mudanças de fornecedores, influencias políticas em áreas totalmente técnicas, demissão de funcionários e demissão de colegas. Fomos obrigados a grevar, suspender cirurgias, consultas (gente vindo de viagem 3 dias de barco e não sendo atendido após esperar meses pelo dia). Somos pressionados por administradores, políticos, pacientes, familiares. Passamos dias de plantões, consultamos centenas, operamos dezenas e ainda nos dizem que não cumprimos metas. Estou fazendo uma medicina altamente técnica depois de anos de estudos, cursos e títulos. Estou no interior da Amazônia em Santarém-Pará em um hospital que tem tudo pra ser uma marco de revolução de saúde em toda essa região, mas estou aqui revoltado e perdendo minhas forças, mas não minha esperança de que tudo aquilo em que acredito não morra. Sou ético respeito meus colegas, meus superiores e meus pacientes, mas estamos numa terra em que se domina o Patrimonialismo em que alguns são donos do público e não os nobres cidadãos eleitores.
Sou médico como profissão mas acima de tudo por um DOM, por uma VOCAÇÃO que nunca deixarei de lado, pois me foi dado para curar e salvar e aqui estou tentando salvar e curar nosso hospital, nossa saúde.

Anônimo disse...

E isto é só o começo. Se investigarem mais um pouco, vão descobrir salários de médicos surreais, fora superfaturamento de outras coisinhas.

Emanuel Santos disse...

O pior disso tudo Miguel, é que bem sabemos na mão de quem está a saúde em Santarém, e ao que tudo indica esse mal que assola nossa cidade no que se refere a má administração dos hospitais públicos se alastra como um câncer e vai contaminando até mesmo os órgaos que deveriam servir de referencia no tratamento de pessoas que vivem (e não raramente morrem) em Santarém e vai continuar ser alastrando a menos que a população local tome a consciência de que somente ela pode mudar essa situação, do contrário, muitas pessoas continuarão sendo obrigadas a sair de Santarém em busca de tratamento.
Sou um exemplo claro dessa situação. Tive de deixar Santarém porque minha esposa não encontrou na cidade o tratamento necessário para uma doença crônica. Minha mãe também precisou ir para São Paulo em busca de tratamento, quando pelo tamanho e estrutura fisica existente no Hospital Regional o oeste paraense poderia ter um atendimento digno.
Basta conversar com funcionários do Hospital para se ter uma noção básica da situação em que se encontra o mesmo. Não faltam relatos de como algumas pessoas, dentre as quais médicos forasteriros e de Santarém, sob as asas de políticos inescrupulosos, formaram um grupo onisciente, onipresente e onipotente que toma decisões a frente do hospital, levando em conta apenas interesses pessoais, sem se importar um pouco que seja com a saúde de milhares de pessoas que sobrevivem em todo o oeste paraense. Dessa forma quem concorda com o grupo passa a fazer parte do mesmo, quem discorda é sumarimente desligado, inclusive pessoas aprovadas em concurso público da Sespa.
Mesmo com muitas dificuldades, minha família pôde sair de Santarém em busca de tratamento e graças a Deus, as coisas andaram e a saúde, bem maior de todo ser humano esta aos poucos sendo estabelecida.
Mas e quem não podem? Estarão essas pessoas condenadas a sofrer com a falta de assistência médica? ou até mesmo morrer a míngua a espera de uma consulta que pode levar meses para ser feita, ou ainda a espera do resultado de um exame do qual depende um diagnóstico preciso?
São perguntas que deveriam ser feitas por todos os precisam do Hospital Regional. 2010 está chegando e com ele as eleições para o governo do estado, então mais uma vez teremos os debates sobre a situação da saúde, em que os dois grupos que disputarão a eleição mutuamente se acusarão de responsáveis pela situação precária em que se encontra a saúde em Santarém e mais uma vez a população vai ter de escolher, mas será uma escolha dificil, pois bem sabemos, o que cada um dos grupos fez quando estava a frente do executivo estadual.

Emanuel Santos disse...

Para constar. Mesmo com esse "grupo" que domina o HRPO, nas muitas vezes que precisei do mesmo, conheci profissionais: medicos (as), enfermeiros (as), assistentes sociais, auxiliares e tecnicos de enfermagem sérios, compententes e acima de tudo humanos, que mesmo a tantas pressões, dentre as quais ameaça de demissões, se esforçam para dispensarem aos pacientes um tratamento de excelência, capaz de amenizar o sofrimento fisico e mental caudado pelas enfermidades