Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
Se o que aconteceu na política paraense nas últimas semanas tiver seu desdobramento lógico e as evoluções dos personagens principais não forem manobras de despistamento ou de mera especulação, mas atos para valer e ter a devida conseqüência, a aliança entre o PT e o PMDB, vitoriosa em 2006, não mais se repetirá na eleição de 2010. A governadora Ana Júlia Carepa é candidata à reeleição, mas desta vez não voltaria a contar com o apoio do deputado federal Jader Barbalho. PMDB e PT terão palanques distintos para o 1º turno, como aconteceu na eleição anterior. Só que desta vez não juntariam suas forças no 2º turno.
Ao contrário de 2006, Jader vem batendo com força crescente no governo petista e não no adversário de ambos, o PSDB e seus aliados. Pode-se interpretar essa fúria como uma forma de elevar o preço para a composição de interesses por ocasião do 2º turno da eleição do próximo ano. Mas há limites para esse jogo de cena. Se a oposição continuar a ser sistemática e a ênfase dos ataques cada vez maior, haverá um ponto sem retorno. A animosidade estará tão disseminada que os líderes perderão o controle dos correligionários – e o apoio dos seus redutos eleitorais – se voltarem atrás, indicando que tudo não passou de dissimulação ou esperteza política.
Esse limite já foi alcançado? Talvez não, mas pode estar bem próximo. Como a estratégia do PMDB é quase um monopólio da vontade de Jader Barbalho, tudo vai depender do juízo que ele já fez ou está formando sobre o potencial da governadora. As notas de coluna e as matérias que têm saído no Diário do Pará sugerem que Ana Júlia alcançou um grau de desgaste irrecuperável. Se esse convencimento for partilhado pelo PT nacional e, em particular, pelo Palácio do Planalto, talvez Jader seja liberado da coligação local, se garantir seu palanque para a ministra Dilma Rousseff, candidata do presidente Lula à sua sucessão. Como já parece ter feito.
Caso essa hipótese se confirme, quem seria o candidato do PMDB ao governo do Estado? A propaganda e os artigos que o Diário começou a publicar do – e sobre o – seu proprietário parecem querer difundir a certeza de que Jader irá enfrentar a quarta eleição para a chefia do executivo paraense (com o cartel de duas vitórias e uma derrota, esta o resultado mais recente – e desanimador para ele). Nos artigos que começou a publicar no jornal há três semanas, o ex-senador enfatiza sua experiência como administrador. Vai buscar exemplos do passado e os requenta como prontos para serem servidos como solução para o presente e o futuro. Ou seja: está em condições de aspirar novamente ao cargo.
A decisão é de alto risco, sujeitando o ex-ministro a ficar sem qualquer privilégio ou proteção diante dos processos judiciais que o têm como réu de enriquecimento ilícito, desvio de recursos públicos e outros delitos. As últimas eleições mostraram que ele ainda é o maior aliado de qualquer candidato a cargo majoritário no Pará, mas sua votação já não é suficiente para assegurar-lhe vitória nessa disputa.
No entanto, com base em pesquisas, que, evidentemente, não revela, Jader pode ter chegado à conclusão de que uma boa campanha de marketing pode retocar essa má imagem ou controlar a memória dos seus malfeitos. Adicionalmente, um maior fracionamento do eleitorado paraense lhe garantiria a passagem para o 2º turno, quando algum tipo de composição poderia atenuar sua alta rejeição.
Ou tudo isso não passa mesmo de manipulação e o que o líder do PMDB está fazendo é ocultar uma carta guardada na manga do paletó para o momento decisivo? É possível. Mas esse tipo de manobra não se justificaria em relação ao PT. Jader não precisaria bater tão forte na administração estadual nem se afastar dela, abrindo mão de cargos ou deixando de preencher as compensações oferecidas. Se age assim, é porque já examina outro tipo de coligação. Os Democratas surgiram como alternativa, mas eles são uma força secundária, coadjuvante. O PSDB poderia vir a ser um aliado, dependendo do desfecho da interminável novela protagonizada pelos ex-governadores Simão Jatene e Almir Gabriel.
Se ainda não sabe com quem estará junto para a eleição, parece que Jader não tem dúvida sobre quem deve combater. O Diário do Pará mantém uma campanha sistemática e intensa contra o prefeito de Belém, Duciomar Costa. Pode ser para minar a já combalida aliança do PTB com o PT, prevenir o surgimento do prefeito como candidato ao senado ou imobilizar a anunciada aliança PTB-PR para apoiar a candidatura de Anivaldo Vale, vice-prefeito da capital, ao governo do Estado. Como ela poderia se tornar fonte de desgaste, o PMDB está tratando de lançar lama sobre a administração municipal, tarefa para a qual disporá de farta matéria prima.
Como muito do que é apresentado como fato consumado não passa de balão de ensaio, é um bom exercício especulativo imaginar uma hipótese improvável, embora não impossível: Ana Júlia Carepa, Jader Barbalho e Almir Gabriel medindo forças para o governo. Os dois últimos sem a máquina estadual para impulsioná-los e a primeira sem a mesma perícia para tirar os melhores rendimentos dessa máquina. Se o eixo da disputa pelo poder no Pará está condenada a não conter novidades, que ao menos desmoronem alguns mitos.
Um comentário:
Jader viria para o Governo, o PR indicaria o vice, Ana Julia para o Senado, e Valeria para outra vaga do senado, seria o fim do PSDB
Postar um comentário