terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O sábio que se esqueceu(Eidorfe Moreira)

Lúcio Flávio Pinto

A comemoração dos 80 anos de Benedito Nunes fez-lhe justiça, um dos maiores intelectuais que o Pará já teve. Benedito pôde constatar em vida que seu valor foi reconhecido na terra natal, onde o profeta costuma ser maltratado. Foi o que aconteceu a outra das grandes cabeças do Estado, privada de testemunhar o reconhecimento do seu valor. Eidorfe Moreira morreu em janeiro de 1989, aos 77 anos, quase no anonimato e às proximidades da pobreza. Amargurado e triste.

Foi o principal dos nossos geógrafos. O filósofo da geografia, disse-o eu numa extensa matéria sobre ele que publiquei em A Província do Pará, jornal no qual ele colaborou durante quase meio século. O geógrafo da filosofia, completou Benedito Nunes. Podíamos cruzar os dois títulos para sermos mais completos, ainda assim sem chegar ao significado total da vasta produção (reunida em 18 livros; o 19º ficou inconcluso) desse paraibano, que veio adolescente para o Pará e daqui nunca mais saiu (nem para passear). Eidorfe foi uma pessoa de extrema e fina sensibilidade. Apreciava a boa literatura a ponto de ser um excelente crítico. Cultivava essa vertente do seu espírito lendo os melhores críticos literários. Alguns dos seus ensaios sobre escritores tão variados como Guimarães Rosa e Clarice Lispector mostram a sua capacidade de observação. A imagem do sertão que captou em vários textos da literatura brasileira é primorosa. Ele tinha o raro dom de sentir o pleno prazer da leitura e poder transmitir sua apreciação aos demais, sem perder o frescor da sua experiência pessoal e inserindo suas anotações no conjunto do pensamento organizado, por obra e graça do seu rigor metodológico, ainda que autodidata (como o próprio Benedito).

Eidorfe morreu com um traço de amargor e talvez de indignação. Em parte por conseqüência da perda do braço esquerdo, vitimado que foi pela violenta repressão da polícia de Magalhães Barata contra os estudantes do Colégio Estadual Paes de Carvalho, que manifestavam sua adesão ao movimento constitucionalista liderado por São Paulo em 1932 contra os primórdios da ditadura de Getúlio Vargas. Um tiro de fuzil que atingiu seu braço exigiu-lhe a amputação. A partir daí ele ficou ainda mais introspectivo, praticamente anti-sociável.

Leia o artigo completo aqui.

Nenhum comentário: