terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Selvageria e impunidade

Gerson Nogueira:

O que aconteceu no estádio Couto Pereira, domingo, só fez repetir antigas mazelas dos nossos campos. A começar pela negligência (e até resistência) dos clubes em relação ao controle das torcidas “organizadas”, tratadas com a mesma boa vontade dedicada aos torcedores comuns. É um grave equívoco. As gangues devem ser identificadas, enquadradas e impedidas de ter acesso aos espetáculos, pelo bem dos demais freqüentadores.


Quando eclodiu o tumulto, depois do jogo Coritiba x Fluminense, com o ataque direto ao trio de arbitragem ainda no gramado, ficou mais do que evidente que a invasão era premeditada. Parecia ensaiado: os marginais passavam com extrema facilidade através de pontos estratégicos do estádio.

Coisa de quem pensou e planejou o ato. Nesse aspecto, cabe observar que a polícia e os clubes parecem não entender que estão lidando com criminosos comuns, capazes de praticar baderna e até homicídios. O despreparo da polícia é inversamente proporcional à capacidade de organização das quadrilhas que freqüentam praças esportivas no Brasil.

O perigo é que, pela repetição sistemática, todos passem a ver com normalidade ações violentas e irracionais desse tipo. As cenas dantescas registradas em Curitiba não constituem fatos isolados. Constantemente, ocorrem situações parecidas em todos os Estados. Na Série C deste ano, jogadores do Águia foram atingidos por artefatos lançados pela torcida do Sampaio Corrêa, em São Luís. Ninguém foi identificado, o clube não foi punido e tudo ficou por isso mesmo.

Há três anos, depois de Re-Pa decisivo pelo Parazão, no Mangueirão, um associado do Paissandu saiu do túnel destinado ao time e invadiu o campo para tentar agredir jogadores remistas que davam a volta olímpica. Estimulados pelo gesto, várias outras pessoas invadiram o campo, sendo contidas a muito custo. Por pouco, uma festa não se transformou em pancadaria, mas tudo acabou esquecido e ninguém sequer foi preso.

Algum tempo antes, um jogador (Sandro Macapá) havia sido esfaqueado na avenida Almirante Barroso quando se dirigia à concentração do Remo, no Baenão. Tempos depois, um jovem torcedor do Paissandu morreu depois de atingido por um rojão na cabeça. São vítimas da mesma insanidade – e da impunidade – vista no Couto Pereira. Os bandidos de lá são iguais aos de cá, não há diferença.

A paz plena talvez seja uma utopia, mas a segurança aos torcedores é possível de obter. Sistemas de controle efetivos nos estádios e em seu entorno já solucionaram o problema em outros países. As providências devem vir acompanhadas de punição exemplar para todo e qualquer abuso.
No caso do Coritiba, por exemplo, o clube deveria ser penalizado até com o rebaixamento para a Série D. Posicionamento assim enérgico seria o primeiro passo para que outros clubes aprendessem, a pulso, a respeitar a integridade de seus torcedores.

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